tag:blogger.com,1999:blog-3611190285663678601.post7375108951692458687..comments2023-06-07T07:49:53.057-03:00Comments on blog às moscas: bichos (lygia clark)rodrigo madeirahttp://www.blogger.com/profile/02967111083406665182noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-3611190285663678601.post-51259384640712792182011-09-10T21:02:14.540-03:002011-09-10T21:02:14.540-03:00(...)
"Os 'Bichos' não eram bichos. ...(...) <br />"Os 'Bichos' não eram bichos. Lygia assim os denominou, possivelmente, como no caso dos 'casulos', para expressar aquela reativação da superfície vazia e, sobretudo, no que se refere especificamente a eles, os 'Bichos', duas propriedades novas: eles tinham uma 'espinha dorsal' e mobilidade. E, além do mais, porque eles eram uma coisa sem nome. Não eram pintura e não eram escultura. Escapavam a toda classificação conhecida. <br />(...) <br />"Assim os casulos deslizam para o chão para se livrarem da visão frontal a que estão submissos os quadros. Sim, mas ainda aqui, no chão, se o espectador pode andar em volta da obra, apreendê-la mais amplamente, resta ainda um lado inacessível a ele: o que está voltado para o chão. Mas o não-objeto não quer ter avesso, portanto ele não pode ter uma base como a escultura tem. Ele não é uma escultura. Ele é o anti-quadro, a destruição do suporte material (...); ele é uma redescoberta do espaço real em consequência da destruição do espaço virtual. Por isso, os 'Bichos' não têm uma posição privilegiada, única, em que devem ser colocados. Não têm o lado de cima, o lado de baixo, o lado direito, o lado esquerdo, já que podem ser postos em qualquer posição. E além disso, não têm uma forma fixa, permanente: as suas placas, interligadas por dobradiças, movem-se e o 'Bicho' se transforma pela ação manual do observador. <br />"Essa mobilidade subverte a relação espectador/obra de arte. O espectador já não merece esse nome porque ele agora não apenas vê a obra; ele age sobre ela: a sua ação a transforma, a completa, a desvela. O 'Bicho' está diante de ti; ele é uma oferta e uma solicitação, uma instigação. Ele se oferece ao teu olhar mas, ao mesmo tempo, não se entrega inteiramente a ele: exige a tua ação, a tua participação efetiva para se mostrar, se completar. <br />"O 'Bicho' é um ser novo no universo da arte. (...)" <br /><br />FERREIRA GULLAR, "Relâmpagos". <br />(Dentre todos os artistas e obras comentadas neste livro, só os "Bichos" não contam com qualquer reprodução fotográfica.) <br /><br />*** <br /><br />de modo que faço um mea-culpa em forma de <br /><br />POEMA-NOTA: <br /><br />não conheço os "bichos". nunca <br />experimentei estas obras - que para serem <br />vistas é preciso mais do que olhos. <br />não conheço os "bichos". sei que suas <br />reproduções em fotos <br />são menos que taxidermia, menos <br />que bichos embalsamados com fólios: <br /><br />falta-lhes (falto-lhes meu corpo) a Vida, <br />a inquietude deles e minha, <br />de bicho; falta-lhes mais nas fotografias: <br />falta-lhes a própria respiração de ser <br />mais que qualquer razão de ser ou ter sido. <br /><br />mesmo assim, inorgânicas, são belas <br />as sombras - de algum jeito <br />nas retinas o frio metal acende um braseiro; <br />são belas as sombras - trazem algo do bicho, <br />da fruta, da flor cabralina, algo difícil <br />como origamis de algum ferrageiro.rodrigo madeirahttps://www.blogger.com/profile/02967111083406665182noreply@blogger.com