como a palma da minha morte, dirá
o poeta, hamlet de escrivaninha
segurando o peso de seu próprio crânio
com o punho erguido.
está aberta a temporada de caça
aos anjos, pensará.
mas o poema, no último estágio
de algum estranho alzheimer
lírico, como uma folha amassada
encarquilhado, esquecerá uma a uma
todas as palavras, os ritmos,
todos os hemistíquios e as rimas raras,
esquecerá os jogos e torneios e tiradas,
imagens avulsas girando
parafusos no nada,
parafusos no nada,
melancolias e epifanias, solipsismos
e saudades.
e saudades.
mas esquecerá tudo mesmo?,
se pergunta, ator-
doado.
sim, tudo,
mesmo as chaves-de-ouro perdidas nas palhas douradas
da velha tarde futura
e imemoriável.
só então o poeta, enervando-se,
coçando a bunda ou
a calva, cansado
de ao menos 30 séculos
e um dia,
só então o poeta,
fechando as cortinas,
ligará a tevê ou o gás (que importa, nesta
altura do madrugada?)
e dormirá.
enquanto isso, noutro canto da cidade,
as musas
trânsfugas, confusas,
mas libertas
dos escaninhos de marfim, das gaiolas
de saliva e vaidade,
calarão
– elas sempre calam...
nos fugazes fins de tarde
da eternidade, já fartas
das quireras e quimeras das palavras,
as musas empoleiradas
em fios elétricos e invisíveis, ou
suspensas nos raios de um sol elíptico,
vão olhar e gargalhar, olhar
e bocejar, empoleiradas.
com alguma sorte, meu
irmão de tinta, acertarão em cheio
a cabeça imensa do poeta
que passa.
calarão
– elas sempre calam...
nos fugazes fins de tarde
da eternidade, já fartas
das quireras e quimeras das palavras,
as musas empoleiradas
em fios elétricos e invisíveis, ou
suspensas nos raios de um sol elíptico,
vão olhar e gargalhar, olhar
e bocejar, empoleiradas.
com alguma sorte, meu
irmão de tinta, acertarão em cheio
a cabeça imensa do poeta
que passa.
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