sábado, 20 de dezembro de 2014

o inseto

                                       
                              PA-
                        LARVA
        
                           ferreira gullar


o soneto 
fechou-se à 
verborreia,
fez careta

ao discurso.
tem agora
o hemistíquio
dos insetos

dissecados.
e entreabriu-se
aos desvãos,

por mais mínimos,
como quem 
se abre ao mar.


2

o inseto de
palarva e tinta,
multiplicado
por suas asas,

despega da
margem esquerda.
magro e comprido,
no afã de ser

fero e revivo,
deixará a página
(conta se morre

pouco depois?)
pelas paredes
sem transcendência.


3

antes de pousar
de uma vez por todas,
o sonetinseto
revela-se inteiro

à sanha suctória
nas dermes da vida:
imos, méis e conas.
morto, vai feder

quase impercebido:
mínimos abismos.
seu registro no 

papel será como
a abelha esmagada
correndo no vidro.


4

ou a fibrólise:
carne do susto,
e não do sono,
mil florações.

duma crisálida
renascerá:
sangue de tinta,
asas-sulfite,

a carnadura 
de gosma e de âmbar.
para queimar

no ar e nas veias,
como um veneno,
como o verão.

          
(pássaro ruim, 2009) 

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