PA-
LARVA
ferreira gullar
o soneto
fechou-se à
verborreia,
fez careta
ao discurso.
tem agora
o hemistíquio
dos insetos
dissecados.
e entreabriu-se
aos desvãos,
por mais mínimos,
como quem
se abre ao mar.
2
o inseto de
palarva e tinta,
multiplicado
por suas asas,
despega da
margem esquerda.
magro e comprido,
no afã de ser
fero e revivo,
deixará a página
(conta se morre
pouco depois?)
pelas paredes
sem transcendência.
3
antes de pousar
de uma vez por todas,
o sonetinseto
revela-se inteiro
à sanha suctória
nas dermes da vida:
imos, méis e conas.
morto, vai feder
quase impercebido:
mínimos abismos.
seu registro no
papel será como
a abelha esmagada
correndo no vidro.
4
ou a fibrólise:
carne do susto,
e não do sono,
mil florações.
duma crisálida
renascerá:
sangue de tinta,
asas-sulfite,
a carnadura
de gosma e de âmbar.
para queimar
no ar e nas veias,
como um veneno,
como o verão.
(pássaro ruim, 2009)
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