quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
dante alighieri/ tradução: italo eugenio mauro
bonaventura berlinghieri,
são francisco e cenas de sua vida (1235)
CANTO XI [PARAÍSO]
(...)
Quando era ainda a infância sua recente
já começava a receber, na terra,
da grã virtude sua, conforto a gente;
porque jovem, por tal mulher, a guerra
do pai sofreu, a quem, tal como à morte,
ninguém a porta do prazer descerra;
e diante da espiritual sua corte
e 'coram patre' a ela foi unido
e dia a dia teve-lhe amor mais forte.
Ela, privada do primo marido,
mil e cem anos de abandono e dor
sofreu, sem receber um só pedido;
nem lhe valeu ouvir o seu valor
prezado – co' Amiclate, quando a achou –
por quem ao mundo só incutiu terror;
nem ser firme e constante a avantajou,
que, quando ao pé Maria chegou-lhe perto,
no alto da cruz com Cristo ela chorou.
Mas, para não prosseguir demais coberto,
que Francisco e Pobreza esses amantes
são, ora eu digo com falar aberto.
A sua concórdia, os seus ledos semblantes,
seu meigo olhar davam, de amor galhardo
e de santo pensar, provas bastantes;
fazendo que o venerável Bernardo
se descalçasse e, na busca da paz
correndo, o seu correr julgasse tardo.
Ó secreta riqueza, ó Bem feraz!
Já se descalça Egídio e já Silvestre
seguindo o esposo, tanto a esposa apraz.
E toma então esse pai, esse Mestre,
com sua mulher e sua família, o trilho
da corte, só cingindo a corda agreste.
(...)
[Alighieri, Dante. A Divina Comédia – tradução, comentários e notas de Italo Eugenio Mauro. São Paulo: Editora 34, 2009.]
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