NUMA EXPOSIÇÃO DE RODCHENKO (1891-1956)
Quando vejo as fotos de Rodchenko
dos primeiros tempos da Revolução
descubro
nos corpos
nas caras
nas ruas
grandes quantidades de energia – o poeta
era equivalente a uma torre de eletricidade
uma corrente de transmissão trilhos de aço
cortando a estepe –
mesmo a expressão feroz
do retrato de Maiakóvski
deve muito ao ar de época:
ar de quem está à frente
no campo de combate
Naquelas fotos a descoberta do mundo
era simultânea à descoberta da forma:
qualquer arruela ou parafuso era fruto
do trabalho comum – e o trabalho comum
uma alegria de todos
Mas que faz um fotógrafo
quando a matéria de seu trabalho
se transforma de forma irremediável?
Nas fotos do último Rodchenko
não sei ao certo o que seu olho está buscando
Parece haver mais graça na lona fora de foco
do circo do que nas acrobacias
da foca e do palhaço
De algum modo ele entendeu
que as coisas haviam chegado
a esse ponto
ALBERTO MARTINS
* fotos de rodchenko: vladimir maiakóvski (1924);
vladimir durov com leão marinho (1940)
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