sábado, 16 de fevereiro de 2013

jack kerouac

                                     
                                        
No armário do banheiro
Uma mosca da temporada
Morreu de velhice
                        
trad. beto palaio


*

In my medicine cabinet
The winter fly
Has died of old age

Um comentário:

  1. "Nós costumamos ligar a ideia de morte natural apenas ao homem, como se as plantas e os animais não morressem naturalmente. E mesmo nas plantas e animais, só nos lembramos disso quando sua morte vem ligada a alguma noção peculiar, gênero morte de elefante que, diz-se, ao se sentir morrer caminha léguas em demanda do cemitério de seus congêneres, onde deita o vasto corpo entre as carcaças familiares e desobjetiva em boas condições.
    Só raramente nos lembramos que bichos pequenos também morrem de morte natural. Quando por acaso encontramos sobre uma mesa, ou no chão, uma mosca, hirta, nunca nos vem a ideia de que ela faleceu dentro das regras: isso porque para todo mundo a mosca é um inseto que não morre - é morto. E assim para a grande maioria dos bichinhos. Quem é que vai se lembrar de que uma joaninha pode morrer, ou um mosquitinho, ou uma baratinha de praia, ou uma pulga, ou uma minhoca? São bichos de tal modo submissos aos azares da morte violenta, de tal modo sujeitos a serem comidos por um outro bicho, pisados, batidos, espremidos, dedetizados, que acabam, no consenso do homem, sem direito a morte própria. Daí o espanto que se tem ao ver o raro espetáculo de uma mosca moribunda agitando as patinhas nas vascas da agonia."
    (...)

    vinicius de moraes (na crônica "morte natural")

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