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segunda-feira, 24 de junho de 2013
ferreira gullar
A ALEGRIA
O sofrimento não tem
nenhum valor,
não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
(nem mesmo o que iluminaria
a lembrança ou a ilusão
de uma alegria).
Sofres tu, sofre
um cão ferido, um inseto
que o inseticida envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?
A justiça é moral, a injustiça
não. A dor
te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos
espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entrefezes
querem estar contentes.
[Gullar, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2008.]
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