terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

cinecittà


                p. terence keller

asa nisi masa
asa nisi masa...



(apenas o que basta
para que
              no gesto automático e desatento
sejamos assim meio carlito
ou para subirmos nas árvores
loucos de tanto tempo
                                   clamando: quero uma mulher!

as maravilhosas mocreias de fellini, ah!
sobretudo as mocreias: saraghina

no peito do bon-vivant uma crise
nos peitos da dona da tabacaria
no destino da prostituta
                                    a desilusão
e nos olhos do falsário
                                    um remorso

em vinhedos e ciprestes da rimini
insular quase, onde o tempo quebrou
e o adulto traja calças curtas
a infância
                é feita de bronze e pátinas
     e padres e comunistas e devotos e foliões

              e continua, continua
porque a infância
              eu a invento enquanto lembro

tudo é a mesma, vária qual a vida
tapeçaria de sangue
                                 e celuloide
nos casamentos e fugas e traições e suicídios
no intelectual pendurado como mussolini e roda
roda a ciranda da vida
nos haréns, procissões, carros e estrelas de cinema
e na fontana di trevi e na lua azul
                                 como um cavalo preto ao luar

roda roda a ciranda da vida
no espancamento e na loucura, nas fatuidades
e no directore  da orquestra
e nos parlapatões histéricos
                            como macacos com navalhas
em agradecimento
pois que começa ou finda o espetáculo

vejam o que dizem: é bom estar vivo!
                               é bom estar vivo!

todo eu sorrio, vesúvio, vindima
velo o corpo de passarinho
                              de cabíria ou gelsomina – a cabeça de alcachofra
e se choro ao ver zampanò, espantalho de hércules, chorar
durmo após nas areias, bêbado, ao espraiar que acarinha
e quebra os cabelos

gira gira num moto-contínuo de cimento e sonho
                               a ciranda
e o morto ressuscita
                               num jogo de cena

de manhã, sempre haverá
um trem que parte, uma nave que vai
rumo às cidades, rumo a qualquer parte

ruma
a vida reinventada)

os filmes de federico
são apenas filmes

e assim mesmo
sabem ver
por minhas retinas
        
    a lona

 – precária invisível –

entre todo céu
e cada homem  

   
* poema do livro "sol sem pálprebras" (revisado)

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