terça-feira, 22 de março de 2011

w.h. auden


FUNERAL BLUES

Parem os relógios, cortem o telefone,
Ao cão que ladra um osso que emudeça a fome.
Calem os pianos e, ao rufar dos tambores,
Tragam o caixão, deixem vir os pranteadores.

Deixem que os aviões lamentem pelo céu,
escrevendo a mensagem: Sim, Ele Morreu.
Amarrem fitas de luto nas pombas públicas,
E que os guardas de trânsito usem negras luvas.    

Ele era meus dias úteis e meu descanso,
Meu meio-dia, meia-noite, fala e canto,
Era meu Norte, meu Sul, Leste e Oeste ao lado;
Pensei fosse o amor eterno: eu estava errado.

Quem quer estrelas? Apaguem-nas uma a uma;
Desmontem o sol, tratem de embrulhar a lua,
E escorram todo o mar, ponham fora a floresta.
Porque nada disso (que ainda existe) presta.


tradução: rodrigo madeira


FUNERAL BLUES
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

2 comentários:

  1. Rodrigo, que legal ver Vc traduzindo um poeta de quem gosto tanto.

    A tradução tá boa, aplausos para o verso:

    “Ao cão que ladra um osso que emudeça a fome”

    O ponto alto é a escolha vocabular, sempre refinada e no limite entre o familiar e o extraordinário: atributos de Auden e Drummond.

    A tradução de "The stars are not wanted now" também é admirável.

    Porém, há um ritmo que sustenta este poema que Vc não se traduziu.
    Não que se devesse repetir a cadência, mas eu senti falta disso.

    Em alguns trechos Vc até que achou algo próximo, com decassílabos. Entretanto, o maravilhoso da versão do Auden é que mesmo sem metro fixo, nem mesmo quantidade de pés, há uma música que casa perfeitamente com a sintaxe das frases e com o sentido das palavras.

    Não deve haver uma receita para traduzir a música do inglês para o português. Mas se a gente pelo menos conseguisse falar sobre isso (das diferenças estruturais do poema em língua inglesa para os de língua luso-brasileira) já estaríamos dando um grande passo. Aonde, eu não sei. Mas seria um passo.

    Abç,

    Rodolfo Jaruga.

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  2. legal, rodolfo. valeu pelas observações. mantive as rimas paralelas, mas - vc tem razão -um pouco da cadência se perdeu. se perdeu tbm um quê da riqueza vocabular, na segunda estrofe principalmente. se a poesia, como disse o robert frost, “é o que se perde na tradução”, então a tradução de poesia não deixa de ser a perda da perda. o inglês é uma língua muito mais magra do que o português. mesmo num verso adjetivoso (3 adj., em português um adj. e uma locução adjetiva) como "put crepe bows round the white necks of the public doves", a coisa toda soa com agilidade. na tradução deste verso, tentei preservar o sentido geral e recriar de alguma maneira, por meio da toante "luto/pública" e da aliteração "pombas públicas", algo da ressonância interna. nada, porém, que se compare ao original...

    abraços.

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