2.
o que sinto é
e não é palavra.
e não é palavra.
uma parte
do que sinto só cabe,
ancestral e feroz,
no rosnado de um lobo.
uma parte
do que sinto só diz
adiós nonino de piazzolla,
ou o silêncio de após
a patética de beethoven.
3.
também a fotografia.
o que é consciência e palavra
não é do morto. imagem pura (putre-
fazendo nada), coisa
finalmente em si.
consciência e palavra
são
do vivo que as inventa
ao lembrar-se.
posso ouvi-lo gritar:
“vermes, deixem-me ser
eterno!”
mas sem a morte, tio –
lembrança de meu tio,
passado de meu tio, amor que sinto
por ti, meu tio –,
sem a morte
não teríamos nascido
e a vida é bela.
* duas das seis partes do poema "a morte"
(pássaro ruim, ed. medusa, 2009)
poema difícil.
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