sexta-feira, 25 de março de 2011

2.

o que sinto é
e não é palavra.

uma parte
do que sinto só cabe,
ancestral e feroz,
no rosnado de um lobo.

uma parte
do que sinto só diz
adiós nonino de piazzolla,

ou o silêncio de após
a patética de beethoven.


3.

também a fotografia.

o que é consciência e palavra
não é do morto. imagem pura (putre-
fazendo nada), coisa
finalmente em si.

consciência e palavra
são
do vivo que as inventa
ao lembrar-se.

posso ouvi-lo gritar:
“vermes, deixem-me ser
eterno!”

mas sem a morte, tio –
lembrança de meu tio,
passado de meu tio, amor que sinto
por ti, meu tio –,
sem a morte
não teríamos nascido

e a vida é bela.


* duas das seis partes do poema "a morte"
(pássaro ruim, ed. medusa, 2009)

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