sexta-feira, 15 de abril de 2011

uma oração

                                                
           y no que esté mal si las cosas nos encuentran otra vez cada día
              y son las mismas.
                                 julio cortázar
                                                                              

dai-me a luz cruel e alegre
de uma manhã.

o sol iletrado
que aniquila a lua
como quem mastiga uma hóstia
com a boca aberta.

não o visionário, o místico,
o mediunato. apenas
o presente,
o presente lido nas entranhas.

dai-me assim
a poesia:
nascida à noite
e que vá aos poucos
amanhecendo...

ou de chofre,
tiro bem no olho
do agouro,
palavra-espantalho
que de terrível
afaste o Corvo,

sem preparação (mas surpresa),
como a catástrofe, a alegria,
por precisão
e fé na incerteza.

e não deixeis
neste dia,
pelo simples rebrilhar
na pupila de um verbo,
que as mesmas coisas
sejam as mesmas.


* do livro "pássaro ruim" (ed. medusa, 2009)
                

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