quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
wisława szymborska
DE UMA EXPEDIÇÃO NÃO REALIZADA AO HIMALAIA
Ah, então este é o Himalaia.
Montanhas correndo para a lua.
O instante da largada fixado
no rasgar súbito do céu.
Deserto de nuvens perfurado.
Um golpe no nada.
Eco — uma branca mudez.
Silêncio.
Yeti, lá embaixo é quarta-feira
tem abecedário, pão
dois e dois são quatro
e a neve derrete.
Tem rosa amarela,
tão formosa, tão bela.
Yeti, nem só crimes
acontecem entre nós.
Yeti, nem todas as palavras
condenam à morte.
Herdamos a esperança —
o dom de esquecer.
Você vai ver como damos
à luz em meio a ruínas.
Yeti, temos Shakespeare lá,
Yeti, e violinos para tocar.
Yeti, ao cair da noite
acendemos a luz.
Aqui — nem lua nem terra
e a lágrima congela.
Ó Yeti meiolunar
pense, volte!
Entre as quatro paredes da avalanche
assim eu chamava pelo Yeti
batendo os pés para me aquecer
na neve
na eterna.
tradução: regina przybycien
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As montanhas correndo para a lua e todo o resto, Yeti.
ResponderExcluirFantástico!
Parabéns :)
fantástico mesmo, natália.
ResponderExcluirszymborska faleceu há pouco, há cerca de duas semanas.
por isso, aceito os parabéns e tbm te parabenizo. este poema agora é mais meu (e de todos nós) do que dela.
não é sofisma, não. acredito mesmo nessas coisas. agora somos mais
shakespeares e szymborskas do que Shakespeare e Szymborska. é como se a morte os tivesse transformado em nossos heterônimos.
VOTANDO COM O RELATOR
ResponderExcluirSzymborska e Shakespeare,
a morte os transforma, e dispõe-nos
como quem se importa, como quem espera
que ambos nos sejam, e sejam nossos heterônimos.
ijs