quinta-feira, 14 de junho de 2012
federico garcía lorca
A CORRIDA E A MORTE
Às cinco horas da tarde.
Eram as cinco em ponto da tarde.
Um menino trouxe um lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já preparado
às cinco horas da tarde.
O resto era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
O vento levou os algodões
às cinco horas da tarde.
O óxido lavrou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já lutam a pomba e leopardo
às cinco horas da tarde.
E a coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Começaram os sons do bordão
às cinco horas da tarde.
Os sinos de arsênico e fumaça
às cinco horas da tarde.
Nas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro, só coração pra cima!
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
e toda a arena cobriu-se de iodo
às cinco horas da tarde,
a morte pôs ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.
Um esquife com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Aos seus ouvidos ossos e flautas
às cinco horas da tarde.
Já mugia o touro a sua frente
às cinco horas da tarde.
De agonia se irisava o quarto
às cinco horas da tarde.
Já se vê no horizonte a gangrena
às cinco horas da tarde.
Trompa de lírio em virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
Feito sóis queimavam as feridas
às cinco horas da tarde,
e a multidão quebrava as janelas
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Ah, terríveis cinco horas da tarde.
Eram cinco em todos os relógios!
Eram as cinco em sombra da tarde!
tradução: rodrigo madeira
* primeiro dos quatro poemas que compõem a elegia Llanto por Ignacio Sanchéz Mejías
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário