terça-feira, 12 de junho de 2012

a morte

     
5.

todos presentes,
o corpo presente:
tudo é ausência.
tudo o que vejo:

o corpo (o homem que havia nele),

arrebentadas
                    as cordas
quando ainda
tentava afinar-se,
infinitamente

despreparado,

que diante da morte
somos todos
recém-nascidos.


6.

estacado
vez de vez
em estado de pedra

(o corpo
           é quando a pedra
pesa o mesmo
           que um homem),

numa mineralogia
sem alquimias
ou metafísicas.

não o que o corpo minera
na saudade,
não o que deita de ervas
entre nossos músculos,
não o que é fruto no chão,
inchaço de dúvidas,
não o que salga de esperas
vãs em cais ou escadas.

o corpo,
somente
o corpo,

monumento
ao perplexo

(quase sem rosto,
que o morto,
máscara
mortuária de si
mesmo,
perdeu seus traços).

o que vejo,
além do que lembro,
está arruinado,
vertido (intraduzível),
estragando
                  em paz
a pedra orgânica,

contido
na rigidez
e no esgarçamento:

apenas
                  [corpo...]

       
* dois últimos trechos do poema "a morte" (pássaro ruim, 2009)

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