quarta-feira, 13 de novembro de 2013
gregório de matos
abaixo,
algumas estrofes do romance "definição do amor". trata-se de um dos mais impressionantes poemas cometidos por nosso taTARAvô espiritual, o jesuíta e momo maior
DR. GREGÓRIO.
*
(...)
Isto, que o Amor se chama,
este, que vidas enterra,
este, que alvedrios prostra,
este, que em palácios entra:
Este, que o juízo tira,
este, que roubou a Helena,
este, que queimou a Troia,
e a Grã-Bretanha perdera:
Este, que a Sansão fez fraco,
este, que o ouro despreza,
faz liberal o avarento,
é assunto dos poetas:
Faz o sisudo andar louco,
faz pazes, ateia a guerra,
o frade andar desterrado,
endoidece a triste freira.
Largar a almofada a moça,
ir mil vezes à janela,
abrir portas de cem chaves
e mais que gata janeira.
Subir muros e telhados,
trepar chaminés e gretas,
chorar lágrimas de punhos,
gastar em escritos resmas.
(...)
É glória, que martiriza,
uma pena, que receia,
é um fel com mil doçuras,
favo com mil asperezas.
Um antídoto, que mata,
doce veneno, que enleia,
uma discrição sem siso,
uma loucura discreta.
Uma prisão toda livre,
uma liberade presa,
desvelo com mil descansos,
descanso com mil desvelos.
(...)
Enfim o Amor é um momo,
uma invenção, uma teima,
um melindre, uma carranca,
uma raiva, uma fineza.
Uma meiguice, um afago,
um arrufo, e uma guerra,
hoje volta, amanhã torna,
hoje solda, amanhã quebra.
Uma vara de esquivanças,
de ciúmes vara e meia,
um sim, que quer dizer não,
não, que por sim se interpreta.
(...)
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas.
quem diz outra coisa, é besta.
[Matos, Gregório de. Poemas escolhidos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.]
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