terça-feira, 1 de março de 2011

E agora, Youssef?


      
      Estamos todos voltados para a direção de Meca. Torço pelos tunisianos, egípcios, iemenitas e líbios revoltosos. Mas com apreensão. Longe de mim querer, como aponta Edward Said em “Orientalismo”, dar uma de taxidermista cultural e essencializar os muçulmanos ou reduzir os árabes a uma categoria retrógrada (antimoderna) de indivíduo. Nem é minha intenção reafirmar uma identidade negativa do tipo: eu, um ocidental civilizado, sou tudo o que um muçulmano não é ou jamais poderá ser. Não creio na tal visão, a meu ver altamente redutora, do “choque de civilizações” e, quando uso termos como “ocidental” ou “Ocidente”, sei que recorro mais a uma abstrata economia de palavras do que propriamente a uma civilização, estanque e bem definida.
      O Oriente Médio é um assunto caprichoso e espinhoso até para quem dedica sua vida a estudá-lo. Uma “geografia política” estilhaçada em etnias e tribos, sunitas e xiitas, governos seculares e teocráticos, de quebra complicada à enésima potência pela criação de Israel em 1948 e as sucessivas e desastrosas políticas norte-americanas para a região. Um verdadeiro camelo na sala de estar.
      Quem se arrisca a fazer futurologia em um cenário tão incerto? Mas podemos, sem incorrer em prejulgamentos, temer – e temer bastante. Uma coisa parece certa para todos os especialistas que acompanham o desdobrar dos acontecimentos: a enxurrada revolucionária que ora vemos muito provavelmente mudará a cara e o equilíbrio de forças na região. Na esteira disso, o Ocidente, totalmente “viciado” no óleo negro prospectado pelos árabes, também se verá diante de impasses e reordenações de suas políticas exteriores.
      Um problema maior, no entanto, reponta nos “horizontes que cheiram a gasolina”. Embora haja cinquenta e três países majoritariamente islâmicos no mundo, diversos em tudo e inclassificáveis pelas mãos de necropsistas culturais, um fantasma comum parece rondá-los, em especial o Oriente Médio e o Al Magreb: o fanatismo religioso. Povos mergulhados no caldo de desespero, falta de coesão e tradição democrática – somando-se a isso os ambíguos sentimentos de atração e repulsa, admiração e ressentimento diante das potências ocidentais –, tornam-se suscetíveis ao carisma inflamado e às soluções mágicas e maniqueístas oferecidas pelos radicais.
      Revoluções são eventos excepcionais e magnéticos. Hipnóticos como tornados, são ao mesmo tempo terríveis e belos, entusiasmantes e assustadores. Acrescente-se a espontaneidade combativa de um povo cansado da tirania, impossível não se tornar simpatizante de primeira hora. O problema é que as revoluções podem engolir rapidamente seus artífices mais legítimos e maiores interessados – o povo –, dando ensejo a radicalismos de toda ordem. A história moderna é farta em exemplos: de Robespierre a Stálin, de Mao a Khomeini. Líderes megalomaníacos a ponto de se elegerem representantes diretos da História ou de Deus, pelo bem da revolução, “condenados” a perpetuar-se no poder (nem precisamos ir tão longe: pensemos em Fidel Castro). A partir desse ponto, qualquer opositor ou moderado é tido como “contrarrevolucionário” ou “infiel”; o regime precisa eliminá-lo.
      A África como um todo, mas agora em foco a África Árabe, é outro bem acabado exemplo. Muitos dos tiranos que a partir dos anos 60 subiram ao poder, fizeram-no por meio de revoluções populares ou golpes de estado com amplo apoio da população. O próprio Muamar Kadafi tornou-se o supremo coronel, em 1969, aclamado como o salvador da pátria e sucessor de Gamal Abdel Nasser na condução do pan-arabismo secular. Kadafi, há 41 anos no poder, é um desses líderes absolutamente medíocres, mas oportunistas e carismáticos, em tudo opostos aos estadistas: uma síntese fatal de megalomania, incompetência e brutalidade.
      Desde o processo de descolonização, no pós-guerra, dois caminhos políticos se abriram no Oriente Médio e no Norte da África: de um lado, velhas monarquias ou emirados, com forte controle dos costumes por meio da religião; de outro, regimes militares na figura de um coronel nacionalista. Ambos com o mesmo denominador: a completa ausência de democracia; além, é claro, do tradicional múltiplo comum: prisões arbitrárias, torturas e execuções extrajudiciais. Ambos em um perigoso jogo de aproximações e afastamentos, inibições e incitações de grupos islâmicos radicais. Por isso estas revoluções podem ser tão assustadoras. Com o colapso em cascata das velhas ditaduras seculares, uma verdadeira caixa de pandora venha talvez a ser aberta. Não é segredo para ninguém que, nas revoluções, via de regra as forças mais radicais e organizadas politicamente (além de, ideologicamente, carismáticas) tendem a prevalecer. No caso específico dos atuais países conflagrados, implica dizer que há uma grande probabilidade de que os fanáticos muçulmanos prevaleçam, a exemplo do que vimos no Irã dos teomaníacos aiatolás.  
     Tomo a liberdade de dizer que o Oriente Médio corre o risco de passar por ainda mais profundo processo de “wahhabização”. O wahhabismo é uma corrente radical saudita (e portanto sunita) que em tudo resume o fanatismo religioso. Defende tanto a expansão pelos territórios infiéis quanto a severa e inflexível aplicação das leis islâmicas. Ainda no século XVIII, quando surgiu, até mesmo o famigerado Marquês de Sade tratou de acusar-lhe o autoritarismo monstruoso. O wahhabismo é a doença crônica do islamismo. Seu principal sintoma é a absurda literalidade corânica, o desejo de impor leis e costumes extemporâneos e abomináveis. Apedrejamentos, mutilações, mortes sumárias de infiéis, opressão sistemática das mulheres. Não há multiculturalismo capaz de justificá-lo. Desde John Locke pelo menos, passando pelos iluministas, temos a possibilidade de escolha de uma plataforma moral e intelectual em favor da vida e da liberdade de ação e pensamento. Qualquer multiculturalismo que tente negociar ou torcer estes valores, cai de imediato no cinismo. Direitos humanos são universais. A ânsia de entender diferentes culturas não pode chegar ao ponto de justificar regimes que fazem de tudo para sufocar diferenças políticas e religiosas. 
        Traçando um paralelo entre o cristianismo e o islamismo, percebo que duas importantes questões podem ser levantadas. Antes de mais nada, não posso deixar de  afirmar, sem meias palavras, quais os meus critérios: tanto Estados seculares quanto democracias liberais são melhores do que, respectivamente, teocracias e regimes autoritários. Democracias liberais e laicas são sempre mais eficientes e livres do que qualquer regime arbitrário, pouco importa se a verdade e a morte são encomendadas a Deus, militares ultranacionalistas ou burocratas do Partido. Dito isso, vamos à comparação: Jesus Cristo, embora fosse filho de Deus e o próprio Deus (vai entender...), era ao mesmo tempo um joão-ninguém. Nunca teve intenção de criar ou gerir um Estado. Já o islã, além de refundar a religiosidade dos povos árabes urbanos e berberes, surgiu com evidentes pretensões políticas: unir as diversas tribos rivais por meio de uma identidade comum, império e religião amalgamados. Mohammad não foi um joão-ninguém; empunhando ele mesmo um alfanje, foi o fundador de um dos maiores, mais poderosos e longevos impérios sobre a terra. Por isso, me parece, talvez seja ainda mais difícil para os muçulmanos a separação entre Estado e religião. Para boa parte deles, o ideal é que se resgate a glória e, de alguma maneira, um modo de vida que remonte àquele período entre o século VII e o século XIV. Não conheço cristãos que defendam o retorno aos gloriosos tempos de Constantino, primeiro imperador romano a converter-se ao cristianismo. Na cristandade ocidental, felizmente, a Igreja foi desautorizada a exercer poder político que ultrapasse o poder cultural e diplomático (o tal soft power). Entretanto, não tenho dúvida de que, se lhe dessem uma segunda chance, o Vaticano não perderia a oportunidade de mais uma vez dar as cartas – e de fazê-lo novamente com intolerância e terror. Pois esta é a natureza das religiões que detêm poder político excessivo: intolerância e terror. O mundo, ou uma parcela dele, nas mãos de líderes religiosos é o pior dos mundos possíveis. Religiões só conseguem ser minimamente saudáveis quando se tornam uma opção individual, integralmente circunscritas à vida privada.                                               
      Chegamos ao ponto. Em grande parte dos países islâmicos, mulás, aiatolás e outras autoridades religiosas ainda têm amplos poderes políticos e jurídicos para administrar almas e Estados. Obviamente, a secularização do Ocidente foi um processo lento e difícil, que demandou séculos. Daí também nasce a preocupação: quando os países muçulmanos (exceto a Turquia) estarão de fato prontos a adotar o regime democrático? E, enquanto isso não acontece, qual será o destino destas revoluções belíssimas e irrefreáveis que comovem e entusiasmam tanto aqueles que se mobilizam em seu epicentro, quanto aqueles que assistem a tudo de longe, pela televisão e pelos jornais?
      O barulho de um tirano quando cai soa como música. É lindo. Mas alguém inevitavelmente ocupará seu lugar. Sempre é possível que a emenda seja pior que o soneto. Quem poderá afirmar que Lênin e Stálin foram melhores do que o czar Nicolau II? Ou que o xá Reza Pahlevi foi pior do que o aiatolá Khomeini?             
      Estamos voltados para a direção de Meca. A caravana da História mais uma vez passa enquanto os cães, fiéis ou infiéis, ladram. Resta-nos torcer. Que os árabes sublevados vençam duplamente, tanto o status quo autoritário quanto as seduções do radicalismo religioso. Que o desespero seja sempre menor do que a maturidade política e o sonho da democracia. Fanáticos religiosos não têm nada a oferecer além de cinzas, suratas e sangue.     
               

19 comentários:

  1. .. tudo isto é muito lúcido...nada mais bonito do que a revolta popular, como dizia o velho braga. se o próximo vai ser um tirano, não importa.
    vai ter debate amanhã; http://www.facebook.com/event.php?eid=200714213287970

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  2. "Alah! Alah! Alah meu bom Alah..."
    Salve-se quem puder...
    Estamos todos aqui no ocidente, terra de gente civilizada (!), torcendo contra os ditadores!
    Terence

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  3. nós burgocidentais, no topo do mundo tecnológico, orgulhosos de nossas leis socias, não podemos deixar de admitir que são os árabes que têm escrito a história do séc. XXI

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  4. não sei o que exatamente vc quis dizer com isso, ricardo. a história seria escrita a despeito de extremistas radicais. porque, parodiando o cazuza e o lobão, a história não pára... o que os revoltosos fazem agora, o "ocidente" já fez no século passado, de uma ou outra maneira. (basta que nos lembremos das diretas-já, do maio de 68, da oposição ao vietnã, da primavera de praga.) a coisa não é assim preto no branco. se fosse, teríamos o tal choque de civilizações na roupagem dialética da luta de classes: de um lado, os pobres muçulmanos explorados; de outro, os imperialistas ocidentais. se formos menos apressados - e mais dispostos a aprofundar a análise -, sabemos que não é por aí. a coisa toda é muito mais complexa. o mesmo "capitalismo burguês" (o realpolitik ocidental) que muitas vezes foi complacente com estas ditaduras, tornou possível a mobilização dos revoltosos, via google, twitter, facebook, youtube. afinal, todo mundo sabe, o vale do silício não fica às margens do nilo. sem as "tecnologias burguesas ocidentais", estas revoltas nunca seriam possíveis. o que, entre outras coisas, quis dizer com o artigo foi: o extremismo muçulmano não é resistência ao ocidente ou a israel coisíssima nenhuma. o extremismo é simplesmente uma irracionalidade criminosa. levantes populares que depõem tiranos são, sim, uma visão de esperança. ao mesmo tempo, porém, são assustadores, em face da visão de mundo extremista que pode ocupar o vácuo de poder... espero (embora tenha sérias dúvidas de que isso vá acontecer)que os países conflagrados se tornem democracias, não novos regimes autoritários ou tiranias fundamentalistas. abç.

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  5. Brilhante Madeira,erudição e defesa do legado das Luzes!Embora as trevas não estejam apenas no Islã.Temos milhôes de mortos fabricados por nòs mesmos, Ocidentais.Empurramos à baioneta aos demais povos nossos valores "superiores " etnocentricos , a nossa forma de ver a Democracia , o governo do povo, quem tem sido o povo a governar nossa sociedade?O povo ?

    Ps posso postá-lo no sociolegista e no poliscratos ?

    Wilson
    Devemos intervir e impor nossa maneira de governar aos outros povos ?
    Acha realmente que o Paraíso está na sociedade burguesa ?
    A Turquia, possue tradições politicas seja o kemalismo agora atenuado com a democrática presença de partido islâmico e o retorno a sua identidade asiática foi exemplo para a Pérsia e O nacionalismo com características pan-arabistas do líder Gamal abdel Nasser cedeu lugar a uma ditadura apodreceu por dentro antes de cair.O aparato militar-empresarial e o grau de dependencia com os EUA só jogaram a pá de cal no Mubarak que não seguiu o exemplo do nosso Geisel e preparou uma transição para os civis,sequer teve a imaginação de tutelar a "democracia " como os militares fizeram com os Chilenos após Pinochet.Temos vários exemplos de furos na democracia "ocidental "inclusive na plutocracia estadunidense.Temer os fundamentalistas.Bush matou mais de cem mil iraquianos com base numa mentira(armas de destruição em massa ) e com outra dar aos iraquianos a democracia americana(com a divisão do butim petroleito e de construção para os EUA)Assassinos por serem ocidentais são menos assassinos do que funamentalistas ?
    Seria interessante não misturar no mesmo caixão defuntos diferentes.assim passa a impressão de ser um mero generalista como esses repórteers librerias da imprensa tupiniquim, que não é seu caso, por isso minha indignação.
    O contexto histórico economico e cultural forjam as estruturas de poder.seja um sistema autoritário ou totalitario não é o ditador de plantão que responde por todas as circunstancias politicas que se apresentam.
    Seu texto é ótimo !Parabéns ! abraço

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  6. Brilhante Madeira,erudição e defesa do legado das Luzes!Embora as trevas não estejam apenas no Islã.Temos milhões de mortos fabricados por nós mesmos, Ocidentais.Empurramos à baioneta aos demais povos nossos valores "superiores " etnocentricos , a nossa forma de ver a Democracia , o governo do povo, quem tem sido o povo a governar nossa sociedade?O povo ?

    Ps posso postá-lo no sociolegista e no poliscratos ?

    Wilson
    Devemos intervir e impor nossa maneira de governar aos outros povos ?
    Acha realmente que o Paraíso está na sociedade burguesa ?
    A Turquia, possui tradições políticas seja o kemalismo agora atenuado com a democrática presença de partido islâmico e o retorno a sua identidade asiática foi exemplo para a Pérsia e O nacionalismo com características pan-arabistas do líder Gamal abdel- Nasser cedeu lugar a uma ditadura apodreceu por dentro antes de cair.O aparato militar-empresarial e o grau de dependência com os EUA só jogaram a pá de cal no Mubarak que não seguiu o exemplo do nosso Geisel e preparou uma transição para os civis,sequer teve a imaginação de tutelar a "democracia " como os militares fizeram com os Chilenos após Pinochet.Temos vários exemplos de furos na democracia "ocidental "inclusive na plutocracia estadunidense.Temer os fundamentalistas.Bush matou mais de cem mil iraquianos com base numa mentira(armas de destruição em massa ) e com outra dar aos iraquianos a democracia americana(com a divisão do butim petroleiro e de construção para os EUA)Assassinos por serem ocidentais são menos assassinos do que fundamentalistas ?
    Seria interessante não misturar no mesmo caixão defuntos diferentes.assim passa a impressão de ser um mero generalista como esses repórteres liberais da imprensa tupiniquim, que não é seu caso, por isso minha indignação.
    O contexto histórico econômico e cultural forjam as estruturas de poder.seja um sistema autoritário ou totalitário não é o ditador de plantão que responde por todas as circunstancias políticas que se apresentam.
    Seu texto é ótimo !Parabéns ! abraço
    4 de março de 2011 17:14
    corrigido

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  7. em realidade,

    estava falando daquela hipótese, ainda hoje defendida por alguns setores, do fukuyama!

    o que vc responde logo em seguida como algo que não concorda (com a teoria do fim da história)!

    mas é justamente isto!

    se as castas sociais estão fossilizadas no capitalismo,(apesar da propagada ilusão da ascenção social) cuja impressão é de que não há mais função para a história pois atingiu-se o auge social, os povos árabes, ou islamizados, a despeito dos que propagam os governos dos estados unidos, frança ou inglaterra (os mesmos responsáveis pela estabilização dos ditadores que dão passe livre ao petróleo às multinacionais ocidentais), para o bem ou para o mal, desde setembro de 2001, têm alterado esta falsa consumação da ideologia reforçada pela mídia, chamada contemporaneidade neo liberal, ou globalização do mercado!

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  8. wilson e ricardo, legal que o texto os instigou.
    era essa a intenção.

    vejam bem, não creio que a democracia liberal seja o éden na terra. o tal "paraíso ali na esquina" é coisa dos utopistas de esquerda...
    o problema de se criticar qualquer inimigo dos estados unidos (do governo cubano a malucos fundamentalistas) é que automaticamente escolhem por vc o lado a que vc pertence: os EUA, é claro, incluído aí tudo o que os EUA fazem mundo afora...
    sei que a democracia liberal tem vários furos. não há dúvida. muito menos, porém, do que qualquer outro regime que já tenha existido sobre a terra. desafio qualquer um a me provar o contrário. onde há mais liberdade, na noruega ou na arábia saudita? nos EUA ou no irã?
    é preciso dizer tbm que o "liberal" de democracia liberal se refere tanto à livre iniciativa quanto ao liberalismo político, ao estado democrático de direito.

    quero deixar claro que tenho horror a tudo o que bush e os neoconservadores representam. fui contra a guerra do iraque. sei que os estados unidos, por exemplo, estão na sementeira da al-qaeda (quando a cia, nos anos 70, financiou os radicais islâmicos que lutavam contra os "soviéticos ateus" no afeganistão). sei tbm que o tirano da vez, muamar kadafi, havia sido reabilitado nos últimos anos, por conta dos interesses econômicos das potências ocidentais (a british petroleum tem um contrato de mais de 1 bilhão de dólares com o governo líbio). e quanto à arábia saudita? o que dizer dela? ninho de terroristas, berço do wahhabismo, autoritária, contumaz violadora de direitos humanos... a despeito disso, a maior provedora de petróleo no mundo e aliada do ocidente.

    se este blog fosse mais antigo, com certeza vcs teriam lido um ou mais artigos contra a guerra do iraque. aquilo foi imoral.
    mas a democracia liberal, estejam certos, é muito maior do que o vale-tudo interesseiro e cínico que norteia as relações internacionais. tenho horror às sordícias da realpolitik consagrada.
    só me digam o seguinte: as políticas internacionais antidemocráticas, escusas, totalmente assimétricas e muitas vezes autoritárias são invenção da democracia liberal? ou simplesmente existem DESDE SEMPRE (desde que existem estados-nações)? como os estados árabes se relacionam entre si, caridosa e carinhosamente? jordanianos não discriminaram palestinos? a arábia saudita não tem horror ao irã que tinha horror ao iraque que competia com a síria e o egito? basta que lembremos do próprio papel de mohammad ao unificar tribos caimitas, ou, na primeira guerra, do papel de t.e. lawrence.

    podem me chamar de idealista e o escambau, mas ainda sonho com políticas externas capazes de combinar pragmatismo e princípios invioláveis: direitos humanos, por exemplo. quem sabe (olha fukuyama aí, ricardo!) num mundo que fosse uma “confraria liberal”, uma confraria democrática.
    sonho com a política internacional de extração kantiana – que chegue à paz perpétua “segundo uma lei universal da liberdade” (por mais “imagine” que isso soe) -, em lugar desta que nos leva de kenneth waltz e hans morgenthau a maquiavel, o velho realismo que sempre colocará "príncipes" (estados ávidos de poder) acima da sociedade civil.
    espero ainda escrever mais sobre o assunto...

    abraços.

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  9. Mesmo que eu não concorde com poucos e bem poucos pontos da sua análise , vejo em vc um intelectual de primeira ordem ,que vale a pena conversar.Obrigado por sua generosidade e peço novamente,posso postar seus escritos em meus blogs e divulgar em outros espaços seus escritos ?
    Grande espaço Madeira, tu é de Lei !

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  10. é claro que sim, wilson. uma honra.

    abraço.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. vejo que são muitos os assuntos aqui abordados,tendo como eixo a questão do Oriente Médio,mencionam a insurreição árabe,o totalitarismo e até a eficiência de uma ideologia, assuntos interligados, todavia merecedores de conjugação específica.
    Vou por cima e por alguns tópicos:
    .Os árabes, ou qualquer outro povo contemporâneo só puderam pensar em sublevações do gênero que hoje conhecemos, graças a dita mentalidade de esquerda e ela é bem anterior ao advento da internet.Maio de 68,foi gerado no bojo de grupos esquerdistas... vou mais longe...por ações extremistas q tanto horror causa a uma determinada esfera intelectual dos nossos dias.Consideremos a partipação dos Occident tão precipua quanto a da Confédération Générale du travail.
    . A mentalidade árabe é intrínsecamente ligada a mentalidade religiosa;mesmo tratando-se dos árabes cristãos;tais como os melquitas,maronitas,ortodoxos-gregos e coptas;os quais,não obstante de suas respectivas crenças, sofreram o diabo nas mãos do fundamentalismo islâmico; sem falar dos armênios, um dos povos mais massacrados da história,e um dos mais injustiçados pela política internacional.
    .O Islã promove sim, terríveis dissensões;e a ação islâmica é árabe,não nos esqueçamos das invasões árabes apartir do século VII.Fora o tremendo sub-reptício q é a ''Causa Palestina''.E não nos esqueçamos do movimento ''Jovens Turcos'' q acabou em paxás.
    Sendo dificil pensar no árabe atual sem levar em consideração o vínculo religioso q os une; dar-lhes roupagem laica é dar-lhes uma fantasia burlesca.

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  13. Por fim, aceno com as palavras de um dos livros mais belos que já li,cujo o autor dispensa apresentações
    ''Ficaram se olhando por longo tempo, sem dizer uma palavra, tentando engolir as lágrimas. Agora que estavam bem distantes do Kosovo, libertavam-se, por assim dizer, de sua sombra. Talvez a razão desses homens pudesse se iluminar e, depois da razão, a alma.”
    Ismail Kadaré

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  14. e aí, tullio! legal que vc apareceu para engrossar o caldo...

    - ficou obscuro o seu comentário sobre a "mentalidade de esquerda". o que é a esquerda para vc? se for simplesmente a oposição ao status quo, então o que vc disse é um truísmo. é como dizer que a água é molhada. pois, obviamente, a revolta contra o governo é automaticamente de esquerda. mas, neste caso, todas as revoltas populares anteriores à revolução francesa poderiam tbm ser chamadas "de esquerda"? e quanto às revoltas populares no brasil da república oligárquica: a revolta da chibata e a guerra de canudos, por exemplo? os sediciosos que, na constantinopla do século VI, tentaram derrubar o imperador justiniano tbm eram de esquerda?
    se, no entanto, vc está falando da mentalidade socialista, discordo totalmente. não há ligação das revoltas em curso com qualquer ideologia esquerdista. a revolução é popular e espontânea, sem organização de partidos ou grupos ideologizados. o grande risco - eu dizia no texto - é que os fundamentalistas (estes sim altamente ideologizados e nada esquerdistas), como força organizada e carismática, ocupem o vácuo de poder e se apropriem de uma revolução que não deflagraram.

    - a corrupção, a opressão e o twitter foram muito mais importantes para estas revoltas do que qualquer experiência histórica da esquerda revolucionária. sem o twitter - isto foi visto já no irã após as eleições fraudulentas de 2009, embora a revolta tenha fracassado -, a capacidade de mobilização cai drasticamente e os pequenos grupos de oposição são esmagados de maneira exemplar.
    as novas ferramentas da internet são uma arma limpa incrível, o mais recente e maior pesadelo dos tiranos (pois sua munição é a velocidade e a liberdade de informação).

    - vc tem toda razão: a mentalidade árabe é intrinsicamente ligada à religião. é daí que advém o meu medo. quando a religião exerce poder político excessivo, não há dúvida de que haverá perseguição e terror.
    a mentalidade ocidental tbm já esteve intimamente ligada - por mil e quinhentos anos -à religião. felizmente, o ocidente vem conseguindo vencer isso. se as identidades culturais fossem estanques, o mundo estaria perdido.
    não sou contra os árabes ou o islamismo; sou contra a religião no poder - seja na arábia saudita, seja em israel ou nos EUA.

    abração.

    ps- tullio, bonito isso. do kadaré li há muito tempo "a ponte dos três arcos". é um baita escritor.

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  15. Opa! Rodrigão, poeta!imenso amigo!
    Desculpe, me expressei mal,o que chamei de mentalidade seria melhor colocado como espírito-Espírito de Esquerda.Sim,compreendo esta expressão quando se refere a oposição do status quo, e a fortiori dos nossos dias e do contexto a que me refiro,é a oposição à injustiça de certos modelos de governo e economia;oposição ao mercado da desigualdade q se sustenta na ''lógica'' da exploração, onde seres humanos são entrepostos do poderio financista. Sabia q vc iria argumentar c/os episódios anteriores a queda da Bastilha, alem de fatos ocorridos sem que este termo fosse expresso objetivamente ou observado ideológicamente;explico q a Esquerda é p mim, antes de tudo uma forma de ideação, por isso a tenho em mente como espírito;várias ideologias são-lhe decorrentes, inclusive o socialismo, mas isto é uma conversa à parte.Acredito que existiram esquerdistas e mesmo socialistas antes mesmo que isso se determinasse como uma idelogia; assim como existem poetas, sem mesmo saberem o que significa a poesia em sua acepção formal.
    Concordo contigo, sobre o perigo teocrático, perigo esse que acontece p. ex em Israel, país dito como democrático e no qual 22% da sua população não goza de plenos direitos civis, por não serem judeus,aliás, o próprio estado nasceu de uma hipotese religiosa, de uma grande pretensão bíblica!Um país,onde o rabinato dá a última palavra em alguns setores importantes da sociedade civil.Devo esclarecer também,que nada tenho contra os árabes, pelo contrário, mas, parece-me que os mesmos são por demais enraízados nas suas respectivas religiões,e códigos religiosos lhes falam mais alto, um fato cultural que se torna óbice quase absoluto para a concretização de um estado plenamente laico.
    Quanto ao uso do twiter nas últimas sublevações daqueles lados de lá , até posso concordar em certo aspecto,todavia, a conflagração independe dos meios q a justifica, ela é '' espontânea''como vc bem disse;ela nasce do ventre individual da revolta q se identifica em par e cria o impulso coletivo.
    "A ponte dos três arcos"!bem lembrado! ótima leitura em meio a todo esse caldeirão q assistimos entre um oriente sem ponte, e um ocidente desarqueado.
    Iradão! todo esse papo!
    Saio daqui p tomar uma generosa dose de conhaque...Saúde! e aquele hiper abraço!
    t.

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  16. Olá Rodrigo, me recomendaram este texto e como eu já conhecia suas poesias, as quais eu gosto muito, resolvi ler por aqui e comentar.

    Como eu já esperava, o texto é muito coeso, bem escrito. E concordamos na idéia central, que a religião pode ser uma fonte de união nacional nos países revoltosos, como também um meio de criar uma identidade "(inter)nacional-popular" entre eles. O que seria péssimo para a democracia.

    Mas é neste ponto, o que é a democracia? Que gostaria de levantar algumas questões.

    1- Não podemos ter uma visão inocente da democracia no ocidente. Desde o fim dos anos 60 Marcuse fala do fim da grande política nas democracias ocidentais e da formação de uma sociedade unidimensional. Nos EUA, por exemplo, as diferenças concretas entre os Partido Republicano e Democrata são hoje muito pontuais. Obama não conseguiu acabar com as intervensões no Oriente Médio e nem fechar Guantánamo. Qual mudança social estrutural foi feita nos últimos anos em uma democracia ocidental? Obama tentou com a reforma da saúde, mas não conseguiu, a reforma manteve o caráter mercantil da saúde e não consegiu universalizar um direito básico à vida. O lucro está acima das pessoas.

    2- Aqui entro no segundo ponto. Hoje o único lugar onde acontecem mudanças estruturais, mesmo que limitadas, nas democracias ocidentais, é na américa latina, onde se consegue misturar elementos de socialismo e Democracia. Sua pergunta se Lênin foi melhor que Nicolau II beira à inocência. Pensando em perspectiva histórica, sem o socialismo e suas demandas por justiça social a democracia ainda seria uma fantasia institucional a serviço somente de uma peque na minoria, as classes dominantes. Qualquer indicador social mostra quem foi superior, o czar ou o socialismo. A democracia não é apenas uma forma política, mas também uma estrutura social. Mas concordamos que Stalin acabou com qualquer possibilidade de socialismo democrático no século XX. Foi um tirano na política.

    3- Outra questão, mais cultural, você não considera a possibilidade da criação de uma "democracia árabe", nova, com critérios de participação popular mas com valores distintos da democracia iluminista. Nesse sentido a religião não precisa ser vista como um entrave à democracia. Está perspectiva é utópica, mas tem sido debatida entre os pensadores pós-colonais.

    4- A utopia kantiana da "paz perpétua" é dos sonhos mais autoritários e etnocêntricos. Desconsidera o inestimável valor do conflito cultural, da potência do falso, do intraduzível, para a existência das sociedades humanas. Isso não implica em guerras no plano da política internacional, muito pelo contrário, implica na aceitação da diferença do outro. Isso sim é um grande avanço da pluralidade democrática. Precisamos (eu me incluo nessa) ler mais Derrida, para entender a política cultural internacional de um modo menos autocentrado.

    5- Por fim, não podemos esquecer que o próprio ocidente está repleto de fundamentalismo religioso. O Brasil neopetencostal é um exemplo. Os EUA são um melhor ainda. Até hoje a política internacional dos EUA é influenciada pelo do "Destino Manifesto", um texto de forte teor religioso no qual os EUA seriam o novo "povo escolhido". Por isso estariam autorizados por Deus a dominarem outros povos.
    E isso provavelmente irá acontecer nos atuais povos revoltosos no norte da África e no oriente médio. Infelizmente não existe uma organziação social de esquerda capaz de propor mudanças estruturais nas sociedades muito desiguais. As novas organizações de esquerda, com mentalidade democrática, ainda estão brotando, e provavelmente não vão florir à tempo de conter à ofensiva imperialista por petróleo nos povos revoltosos. Em especial àquele que controla a maior via de comércio petrolífero do mundo, o canal de Suez...
    Abraços,
    Alex

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  17. opa, alexander. desculpe pela demora, só agora tive tempo de responder...
    você usou em dois momentos do texto palavras bem similares: "inocente" e "ingênuo". talvez eu seja mesmo. mas quero acreditar, neste ponto, que sou apenas coerente. a democracia liberal no ocidente tem falhas muito grandes; bem menores, no entanto, do que as de qualquer outro regime de que já tenha ouvido falar. é aquela velha sentença de churchill: "a democracia é o pior dos regimes, exceto todos os outros". já havia falado isso, mas não custa repetir: não creio que a democracia liberal seja o paraíso na terra. mas pense um pouco, compare-a com: a democracia grega escravista, o modo de produção asiático, o sistema feudal, a monarquia absolutista, a tirania socialista, as ditaduras militares (tanto no plano político quanto econômico).

    1. é o jogo democrático. obama é negro, de sobrenome "hussein", descendente de quenianos. e conseguiu, sim, aprovar a reforma na saúde; tz não na extensão desejada (e ainda existe o risco de que a nova lei caia por terra), mas já foi um grande avanço, e dentro do jogo democrático. importante dizer que a mentalidade do americano médio deve ser levada conta: existe resistência a reformas que sejam - na minha opinião de forma totalmente equivocada -consideradas intervencionismo estatal na vida privada. creio, porém, que é apenas uma questão de tempo para que a ideia se torne palatável e se afigure justa, mesmo ao americano conservador pobre ou de classe media baixa que repudia a reforma mas seria beneficiado por ela. qual mudança estrutural? seu comentário é a-histórico. se tivermos um mínimo de perspectiva, notaremos que, em menos de 100 anos (nada, historicamente falando), as mulheres adquiriram direitos políticos plenos, existe alternância no poder, liberdade de pensamento e opinião, enfim... não sou ingênuo a ponto de imaginar que o capitalismo não tenha seriíssimos problemas, mas é, de longe, a forma de produção mais eficiente e adaptável.

    vc pode agora pensar na degradação ambiental. certo. mas este é um problema de escala. o homem sempre teve uma relação predatória com o meio ambiente. índios brasileiros não tinham, por exemplo, o hábito de reflorestar. a preservação do meio ambiente, por conta do aumento gigantesco da produção e do consumo, é um dos grandes desafios da humanidade. mas esta é a lógica meramente capitalista ou é a lógica humana? a união soviética não poluía loucamente? a china "socialista" (regime joint venture com tiro na nuca de dissidente) não é, depois dos EUA, o maior poluidor mundial? não sou ingênuo a ponto de imaginar que qualquer alternativa revolucionária (ou pseudo-revolucionária - ex: bolivarianismo) possa dar conta das complexidades da vida política e econômica moderna sem cair em demagogia, populismo e autoritarismo. em muitos casos, o lucro está acima das pessoas, de fato. historicamente, isto também não é novo. nas relações internacionais, por exemplo. o próprio chomsky (de quem passo longe de ser fã) diz acertadamente: nas relações entre os países existe a preeminência de interesses econômicos sobre os direitos humanos. a única forma de reverter isso é por meio do "império da lei", por ajustes finos, de acordo com as regras do jogo de um estado democrático de direito, e pelo respeito universal a um direito internacional público que coloque acima de qualquer outra coisa o respeito aos direitos humanos e relação pacífica entre os estados (para que haja estas relações pacíficas, a meu ver, é fundamental que o mundo todo se democratize. bush jamais teria "legitimidade" política para invadir o iraque se este país fosse democrático. nunca houve guerras entre democracias). (continua)

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  18. 2. na américa latina há mudanças entruturais que mesclam socialismo e democracia? isso, sim, é ingênuo e risível. sem comentários. de quem vc está falando, do fidel, do chavez, do evo morales, das políticas do pt?

    lênin foi um líder autoritário e, embora preferisse trotski a stalin, preparou o caminho para que este último subisse ao poder e se tornasse o maior criminoso do século XX (ao lado de hitler e mao). o socialismo deu fartas mostras de que é incompatível com a democracia, ou seja, com a liberdade de pensamento e ação. não se pode suprimir a livre iniciativa sem suprimir a liberdade individual, sem se arrogar o papel de "gerenciador de almas" (afinal, quem discorda é traidor da causa, contrarrevolucionário, reacionário a serviço do imperialismo americano...).
    a luta de trabalhadores socialistas foi fundamental para que o capitalismo ocidental mudasse, evoluísse, se "revolucionasse por dentro". absorções tópicas de ideias socialistas, como disse o gullar, foram fundamentais para mudar a relação entre o capitalista e o trabalhador. mas daí a acreditar que existem alternativas viáveis economicamente (e que não caiam em autoritarismo político)para o socialismo, é algo no mínimo ingênuo.

    3. de fato, é utópico. o pensamento iluminista não é francês, europeu (colonialista e blablablá), ocidental. o pensamento iluminista é uma revolução no PENSAMENTO HUMANO. nada impede que, num estado democrático de direito, haja profundas diferenças culturais. ou vc acha que um sueco é igual a um brasileiro? não defendo que os árabes deixem de ser religiosos. volto a dizer: democracia só é possível de fato num estado laico. se a religião tiver poder excessivo, haverá intolerância e franco ataque às liberdades individuais (condição primordial para que haja democracia). daqui a pouco ainda vou ouvir o termo "teocracia democrática", mais ou menos como aquelas "repúblicas democráticas" do socialismo real...

    4. a ideia de paz perpétua, descontada a tal visão "etnocêntrica" (a distinção determinista entre civilizados e bárbaros, típica de qualquer mentalidade anterior à segunda metade do século XX - basta que pensemos em aristóteles, por ex, ou mesmo em marx), é algo com que se sonhar. o critério não é cultural, é político - a clara distinção entre regimes livres e regimes autoritários. kant deu inestimável contribuição ao formular outra noção de soberania internacional (soberania popular já desenvolvida - em âmbito interno - por locke e rousseau, embora com sensíveis diferenças entre estes autores), uma soberania vinculada à sociedade civil, a seus direitos inalienáveis, e não à autoridade de governos muitas vezes tirânicos. (continua)

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  19. 5. alexander, não confunda as coisas. é óbvio que há fundamentalismo religioso no ocidente. estou falando de fundamentalismo no poder, como o que existiu no ocidente durante a idade média e o início da idade moderna. não há dúvida de que os americanos são religiosos, mas os EUA são de fato e de direito um estado laico. obama não professa nenhuma religião - é um "cão infiel"! - e no entanto é o presidente. esta é a diferença. neste sentido, os EUA são uma visão de esperança: a prova de que, mesmo em sociedades culturalmente religiosas, estados laicos são possíveis.

    como, pelo jeito, nem eu nem vc lemos o derrida, alexander, não dá nem para entrar no mérito. tome cuidado apenas com possíveis engodos multiculturalistas, que muitas vezes ganham ares catedráticos para, ao fim e ao cabo, defender regimes que oprimem seus próprios povos...

    6. quero dizer que os EUA não são um exemplo na condução de sua política externa. mas, sejamos honestos, união soviética e china - outras duas potências - agiram ou tem agido de forma muito diferente? se no plano interno não dá nem pra comparar o nível de desenvolvimento econômico e político (os EUA dão um banho), externamente as políticas externas se equivalem: são fruto da realpolitik, da visão política à maquiavel. a mentalidade política internacional consagrada faria de qualquer outra superpotência - islândia, eritreia ou mongólia - um poço de pragmatismo, hipocrisia, agressividade e cinismo. tenho horror a diversas atitudes dos EUA no cenário internacional, mas daí a ser antiamericanista (a nova religião de uma certa esquerda) vai uma grande distância.

    7. meu amigo tullio falou da "mentalidade de esquerda" a inspirar as revoltas. a maior inspiração moderna para todas as revoluções foi certamente a revolução americana deflagrada em 1776. ela inspirou diretamente a revolução francesa e foi a pedra fundamental da moderna democracia.

    abraços, alex,
    r.m.

    * pra quem leu o artigo e patiticipou da conversa, sugiro o artigo do ferreira gullar publicado no último domingo. sua visão é quase oposta a minha, bem menos apreensiva, bem mais otimista. fiquei muito contente quando li seu artigo, pois ele pode estar certo e tem excelentes argumentos. espero que a minha apreensão, embora não infundada, se mostre equivocada. procurem o artigo na internet: "se a história tem lógica", ferreira gullar, folha de são paulo, 13/03/2011. vale a pena. abçs.

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