estou aqui: de corpo e língua
exact warm unholy
e.e. cummings
1
e se eu lhe desse
um beijo de língua portuguesa
se eu dissesse
que seus ossos
são ruínas tomadas de vegetação rasteira
se eu dissesse
que seus olhos
foram atravessados por um pássaro
que seu sorriso apodreceu meu ódio
como a lepra
se eu dissesse
que, se de sua nudez você se despe
a caminho da rua,
me perde e excomunga
a luz do quarto em sua pele
e se eu não dissesse
?
2
queria dizer
não com a língua de falar
(mas) a de lamber
3
cuspir a língua
no criado-mudo, para
que no corpo tudo
sejam línguas.
abrir a janela
ao silêncio da estrela:
aquela que virgem,
rameira,
brilha no eremitério
das ruas,
brilha
em sua virilha.
e deixá-la falar
a noite inteira
– pelo amor de alumiar –
o que nenhuma estrela
é capaz de falar
4
Amar.
com mãos absurdas
(como um mudo exaltado)
5
entoar o CÂNTICO DOS CÂNTICOS
apenas com as mãos
6
revogar o idioma
e expatriar os pés
a primeira vez
de sua nudez
na moldura móvel
de minhas mãos
7
absurdamento:
fiquei parado o coração batendo,
surrado
por uma corja de borboletas.
(não que fosse sua primeira nudez
o meu primeiro alumbramento.)
8
na calada da noite.
amolar
contra a pedra do olho
um relâmpago enferrujado.
e aproveitá-lo (mesmo que contrário
ao silêncio à fala)
como piercing de língua
numa boca que se cala
9
o co
lapso dos
andaimes da voz
dos andaimes do
colibri
do ex-libris
o dia implodido só a respiração
sobre si tem vigas
o templo vazio
pro
fanou
tudo ,
tu
do que resta
está
h o r i z o n t a l
o vicariato do amor...
ResponderExcluirrp