terça-feira, 6 de novembro de 2012
frank o'hara
MIKE GOLDBERG, sardines (1955)
POR QUE NÃO SOU PINTOR
Não sou pintor, eu sou poeta.
Por quê? Acho que eu preferiria
ser um pintor, mas não sou. Bem,
por exemplo, Mike Goldberg
está começando um quadro. Eu apareço.
"Senta aí e bebe um pouco" ele
diz. Eu bebo; nós bebemos. Dou uma
olhada. "Você escreveu SARDINHAS nele."
"Pois é, faltava alguma coisa ali."
"Ah". Vou embora e os dias se vão
e apareço de novo. O quadro
vai em frente, e eu me vou, e os dias
se vão. Apareço. O quadro está
terminado. "Cadê as SARDINHAS?"
Tudo o que sobrou são apenas
letras, "Era demais," Mike diz.
Mas e eu? Um dia estou pensando
numa cor: laranja. Escrevo uma linha
sobre o laranja. Em pouco tempo a coisa vira
uma página inteira de palavras, não linhas.
Depois outra página. É preciso haver
muito mais, não do laranja, das
palavras, de como é terrível o laranja
e a vida. Os dias se vão. Até mesmo
em prosa, sou um poeta de verdade. Meu poema
está terminado e eu não mencionei
o laranja ainda. São doze poemas, eu os chamo de
LARANJAS. E um dia numa galeria
vejo o quadro de Mike, chamado SARDINHAS.
(1971)
tradução: rodrigo madeira
WHY I AM NOT A PAINTER
I am not a painter, I am a poet.
Why? I think I would rather be
a painter, but I am not. Well,
for instance, Mark Goldberg
is starting a painting. I drop in.
"Sit down and have a drink" he
says. I drink; we drink. I look
up. "You have SARDINES in it."
"Yes, it needed something there."
"Oh." I go and the days go by
and I drop in again. The painting
is going on, and I go, and the days
go by. I drop in. The painting is
finished. "Where's SARDINES?"
All that's left is just
letters, "It was too much," Mike says.
But me? One day I am thinking of
a color: orange. I write a line
about orange. Pretty soon it is a
whole page of words, not lines.
Then another page. There should be
so much more, not of orange, of
words, of how terrible orange is
and life. Days go by. It is even in
prose, I am a real poet. My poem
is finished and I haven't mentioned
orange yet. It's twelve poems, I call
it ORANGES. And one day in a gallery
I see Mike's painting, called SARDINES.
(1971)
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