segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

bob dylan

                                        


NÃO ESCURECEU AINDA

A noite está caindo e estou aqui desde cedo
Não consigo dormir, o tempo escorre entre os dedos
Sinto que a minha alma foi em aço forjada
O sol não me sarou nenhuma das chagas
Em nenhuma parte me resta algum lugar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá

É isso, meu senso de humanidade cobriu-se de bolor
Atrás de cada coisa bela houve algum tipo de dor
Ela me escreveu uma carta, uma carta tão gentil
Ela pôs em palavras tudo o que sentiu
Nem sei por que eu deveria me importar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá

Pois então, fui a Londres, fui à Paris do desvario
Cheguei ao mar seguindo o curso do rio
Fui ao fundo deste mundo que mente tão bem
Não estou buscando nada nos olhos de ninguém
Às vezes pesa mais do que eu posso suportar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá

Eu nasci aqui e aqui vou morrer desagradado
Sei que pareço em movimento, mas estou parado
Cada nervo de meu corpo está tão nu e amortecido
Nem me lembro a razão para um dia haver fugido
Sequer ouço o murmúrio que fazemos ao rezar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá
          
tradução: rodrigo madeira
          
                    

3 comentários:

  1. Tá:

    eu quase consegui me segurar, mas só quase... ;)

    Ainda Não Escureceu

    As sombras vêm caindo e eu aqui o dia inteiro
    O calor não dá sossego, o tempo foge sorrateiro
    Sinto como um aço essa minha alma fria e dura
    Tenho em mim as cicatrizes que nenhum sol cura
    Não existe mais espaço nem sequer pra alguma base
    Ainda não escureceu, mas já está quase

    É: meu senso do que é humano já se foi pelo ralo
    Por trás de cada beleza algo pisa em nosso calo
    Ela me escreveu uma carta caprichada em gentileza
    Colocou em palavras o que tinha na cabeça
    Não vejo nem por que achar que isso é só fase
    Ainda não escureceu, mas já está quase

    É: eu já estive em Londres, e em Paris, cidade-luz
    Desci rios que me levaram até mares tão azuis
    Já conheço até as raízes deste mundo de ilusão
    E não quero provar nada nem que alguém me dê razão
    Pois às vezes o meu fardo me parece pesar mais e
    Ainda não escureceu, mas já está quase

    Onde nasci, morrerei, queira ou não aceitar
    Pode parecer que avanço mas só sigo em meu lugar
    Cada nervo no meu corpo está vazio e amortecido
    Não recordo nem o que me trouxe aqui fugido
    Nem escuto algum murmúrio ou prece pela paz e
    Ainda não escureceu, mas já está quase

    Bob Dylan
    versão brasileira:
    Ivan Justen Santana

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  2. ficou mt boa, ivan. vc é nosso adido cultural dylaniano em curitiba, sem dúvida.
    quando, aliás, vai sair o livro de traduções? porque precisa sair, cara. muitas das suas versões brasileiras renovam a pertinência e enriquecem a leitura de nosso "nasal nightingale".

    * tive que trocar, na minha tradução, "curso" por "corrente do rio". surgiu um spam filho-da-puta sabe-se lá de onde: um link para um cursinho de inglês. pode?

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