NÃO ESCURECEU AINDA
A noite está caindo e estou aqui desde cedo
Não consigo dormir, o tempo escorre entre os dedos
Sinto que a minha alma foi em aço forjada
O sol não me sarou nenhuma das chagas
Em nenhuma parte me resta algum lugar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá
É isso, meu senso de humanidade cobriu-se de bolor
Atrás de cada coisa bela houve algum tipo de dor
Ela me escreveu uma carta, uma carta tão gentil
Ela pôs em palavras tudo o que sentiu
Nem sei por que eu deveria me importar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá
Pois então, fui a Londres, fui à Paris do desvario
Cheguei ao mar seguindo o curso do rio
Fui ao fundo deste mundo que mente tão bem
Não estou buscando nada nos olhos de ninguém
Às vezes pesa mais do que eu posso suportar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá
Eu nasci aqui e aqui vou morrer desagradado
Sei que pareço em movimento, mas estou parado
Cada nervo de meu corpo está tão nu e amortecido
Nem me lembro a razão para um dia haver fugido
Sequer ouço o murmúrio que fazemos ao rezar
Não escureceu ainda, mas está chegando lá
tradução: rodrigo madeira
Nice work, Mr. Wood
ResponderExcluirTá:
ResponderExcluireu quase consegui me segurar, mas só quase... ;)
Ainda Não Escureceu
As sombras vêm caindo e eu aqui o dia inteiro
O calor não dá sossego, o tempo foge sorrateiro
Sinto como um aço essa minha alma fria e dura
Tenho em mim as cicatrizes que nenhum sol cura
Não existe mais espaço nem sequer pra alguma base
Ainda não escureceu, mas já está quase
É: meu senso do que é humano já se foi pelo ralo
Por trás de cada beleza algo pisa em nosso calo
Ela me escreveu uma carta caprichada em gentileza
Colocou em palavras o que tinha na cabeça
Não vejo nem por que achar que isso é só fase
Ainda não escureceu, mas já está quase
É: eu já estive em Londres, e em Paris, cidade-luz
Desci rios que me levaram até mares tão azuis
Já conheço até as raízes deste mundo de ilusão
E não quero provar nada nem que alguém me dê razão
Pois às vezes o meu fardo me parece pesar mais e
Ainda não escureceu, mas já está quase
Onde nasci, morrerei, queira ou não aceitar
Pode parecer que avanço mas só sigo em meu lugar
Cada nervo no meu corpo está vazio e amortecido
Não recordo nem o que me trouxe aqui fugido
Nem escuto algum murmúrio ou prece pela paz e
Ainda não escureceu, mas já está quase
Bob Dylan
versão brasileira:
Ivan Justen Santana
ficou mt boa, ivan. vc é nosso adido cultural dylaniano em curitiba, sem dúvida.
ResponderExcluirquando, aliás, vai sair o livro de traduções? porque precisa sair, cara. muitas das suas versões brasileiras renovam a pertinência e enriquecem a leitura de nosso "nasal nightingale".
* tive que trocar, na minha tradução, "curso" por "corrente do rio". surgiu um spam filho-da-puta sabe-se lá de onde: um link para um cursinho de inglês. pode?