quinta-feira, 1 de março de 2012

robert frost (IV)

                                                                                           
À NOITE ACOSTUMADO
         
         
Já fui à noite inteiramente acostumado.
Eu já saí na chuva   e regressei na chuva.
Já segui tendo as luzes da cidade ao largo.

Eu já contemplei a mais triste dentre as ruas.
Já deixei para trás as rondas do vigia
E baixei o olhar, sem declaração alguma.

Parei, calei o som que ao caminhar fazia
Quando na distância de repente irrompeu
Um grito surdo que por sobre as casas vinha,

Mas não a me chamar ou me dizer adeus;
Ainda mais imóvel e mal-assombrado,
Dizia um luminar relógio contra os céus

Que o tempo nem estava certo nem errado.
Já fui à noite inteiramente acostumado.

tradução: rodrigo madeira


ACQUAINTED WITH THE NIGHT

I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain – and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.

I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.

I have stand sitll and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,

But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
A luminary clock against the sky

Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.
 

    foto: lu cañete
                  

8 comentários:

  1. Bravo!

    Dava pra retrabalhar em decassílabos,
    pra ficar com ritmo mais martelado,
    porém aqui um grande passo já foi dado...

    Ivan, o tradutor um pouco acanalhado...

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  2. À NOITE ACOSTUMADO

    Já fui alguém à noite acostumado.
    Já fui na chuva-- já voltei na chuva.
    Já fui mais longe que a luz da cidade.

    Já andei pra baixo na avenida escura.
    Já cruzei o vigia em sua ronda,
    Baixei o olhar, sem despertar dúvida.

    Parei o passo e fiz parar o som da
    Passada a me seguir, súbito um grito
    Veio de outra rua, sobre outra sombra,

    Mas não pra me chamar, nem despedida;
    E adiante ainda, de um abismo de astro,
    Uma luz de relógio, um som clepsidra

    Me proclamou nem certo nem errado.
    Já fui alguém à noite acostumado.

    Robert Frost
    Tradutor mal-acostumado:
    Ivan Justen Santana

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  3. ivan, irmãozinho, curti sua versão. bem bacana... e em versos decassílabos...
    mas deixa eu fazer só uma crítica: o poema ficou um tanto ivanizado; quero dizer, enxerga-se e ouve-se no poema o tradutor mais do que o autor.

    ps - sua tradução me ajudou muito. o "i have been one..." inicial é realmente passado, e não presente. isso muda tudo. o poema ficou ainda mais significativo para mim.
    já arrumei.

    valeu. abçs.

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  4. Rodrigo, irmãozinho, encaixo sua observação como um golpe válido: touché -- por sinal, só depois notei que malversei o sentido do penúltimo verso, mas achei que ficava bom assim, e realmente eu me investi no poema -- ficou uma imitation, do jeito que o outro Robert, o Lowell, gostava de fazer (confira quando puder o Imitations dele, vale a respigada) --

    enfim, o meu trabalho aqui teve intenção também de sacudir com o Frost, que congelou a poesia como "o que se perde na tradução" -- você sabe, eu tenho toda a empáfia e todo o desplante para isso;

    outrossim, fico bem feliz que as minhas canalhices tenham auxiliado o seu trabalho, e contribuído para sua leitura do poema -- vamos produzindo, que há poucas outras boas escolhas...

    e eu que digo valeu ;)

    Ivan

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  5. O concerto é solitário. Só aprende quem fracassa. Só ganha quem desiste.

    beijo

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  6. é isso aí, marília. isso de saber fracassar ainda vai nos levar além.
    bj.

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  7. Gostei de ambas as versões, mas nos dois casos, o português acaba trazendo certa formalidade aos versos. Enfim, traduzir é perder. Em tempo, há um erro de digitação no primeiro verso da terceira estrofe. O correto é “I have stood “still“ and stopped the sound of feet. Abs e obrigado por oferecem boa leitura.

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