À NOITE ACOSTUMADO
Já fui à noite inteiramente acostumado.
Eu já saí na chuva – e regressei na chuva.
Já segui tendo as luzes da cidade ao largo.
Eu já contemplei a mais triste dentre as ruas.
Já deixei para trás as rondas do vigia
E baixei o olhar, sem declaração alguma.
Parei, calei o som que ao caminhar fazia
Quando na distância de repente irrompeu
Um grito surdo que por sobre as casas vinha,
Mas não a me chamar ou me dizer adeus;
Ainda mais imóvel e mal-assombrado,
Dizia um luminar relógio contra os céus
Que o tempo nem estava certo nem errado.
Já fui à noite inteiramente acostumado.
tradução: rodrigo madeira
ACQUAINTED WITH THE NIGHT
I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain – and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.
I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.
I have stand sitll and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,
But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
A luminary clock against the sky
Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.
foto: lu cañete
Bravo!
ResponderExcluirDava pra retrabalhar em decassílabos,
pra ficar com ritmo mais martelado,
porém aqui um grande passo já foi dado...
Ivan, o tradutor um pouco acanalhado...
À NOITE ACOSTUMADO
ResponderExcluirJá fui alguém à noite acostumado.
Já fui na chuva-- já voltei na chuva.
Já fui mais longe que a luz da cidade.
Já andei pra baixo na avenida escura.
Já cruzei o vigia em sua ronda,
Baixei o olhar, sem despertar dúvida.
Parei o passo e fiz parar o som da
Passada a me seguir, súbito um grito
Veio de outra rua, sobre outra sombra,
Mas não pra me chamar, nem despedida;
E adiante ainda, de um abismo de astro,
Uma luz de relógio, um som clepsidra
Me proclamou nem certo nem errado.
Já fui alguém à noite acostumado.
Robert Frost
Tradutor mal-acostumado:
Ivan Justen Santana
ivan, irmãozinho, curti sua versão. bem bacana... e em versos decassílabos...
ResponderExcluirmas deixa eu fazer só uma crítica: o poema ficou um tanto ivanizado; quero dizer, enxerga-se e ouve-se no poema o tradutor mais do que o autor.
ps - sua tradução me ajudou muito. o "i have been one..." inicial é realmente passado, e não presente. isso muda tudo. o poema ficou ainda mais significativo para mim.
já arrumei.
valeu. abçs.
Rodrigo, irmãozinho, encaixo sua observação como um golpe válido: touché -- por sinal, só depois notei que malversei o sentido do penúltimo verso, mas achei que ficava bom assim, e realmente eu me investi no poema -- ficou uma imitation, do jeito que o outro Robert, o Lowell, gostava de fazer (confira quando puder o Imitations dele, vale a respigada) --
ResponderExcluirenfim, o meu trabalho aqui teve intenção também de sacudir com o Frost, que congelou a poesia como "o que se perde na tradução" -- você sabe, eu tenho toda a empáfia e todo o desplante para isso;
outrossim, fico bem feliz que as minhas canalhices tenham auxiliado o seu trabalho, e contribuído para sua leitura do poema -- vamos produzindo, que há poucas outras boas escolhas...
e eu que digo valeu ;)
Ivan
O concerto é solitário. Só aprende quem fracassa. Só ganha quem desiste.
ResponderExcluirbeijo
é isso aí, marília. isso de saber fracassar ainda vai nos levar além.
ResponderExcluirbj.
Gostei de ambas as versões, mas nos dois casos, o português acaba trazendo certa formalidade aos versos. Enfim, traduzir é perder. Em tempo, há um erro de digitação no primeiro verso da terceira estrofe. O correto é “I have stood “still“ and stopped the sound of feet. Abs e obrigado por oferecem boa leitura.
ResponderExcluirrs... por “oferecerem“ boa leitura
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