sábado, 26 de maio de 2012

eliseo diego

       
* poema surrupiado (no original) de http://daniellagrego.blogspot.com.br/



TESTAMENTO

Havendo chegado ao tempo em que
a penumbra já não me consola
e me apequenam os presságios pequenos;

havendo chegado a este tempo;

e como a borra do café
súbito me abre agora
suas redondas bocas amargas;

havendo chegado a este tempo;

e já perdida toda esperança de
algum merecido ascenso, de
ver o sereno manar da sombra;

e eu sem possuir senão o tempo;

sem possuir mais, enfim,
que minha memória das noites e
sua vibrante delicadeza enorme;

sem possuir mais
entre o céu e a terra que
minha memória, que este tempo;

decido fazer meu testamento.

É este:
deixo-lhes 

o tempo, todo o tempo.

     
tradução: rodrigo madeira
         

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