quarta-feira, 19 de outubro de 2011

dylan thomas (II)

                                                                                                                                

                                       
EM MEU OFÍCIO OU SOMBRIA ARTE
                                                                 
Em meu ofício ou sombria arte
Exercida na noite estanque
Quando só a lua se enraivece
E os amantes jazem num colchão
Com suas dores todas entre os braços
Trabalho à luz cantante
Não pela cobiça ou pelo pão,
Cabotino comércio de encantos
Sobre palcos de marfim,
Mas pelo salário mínimo, isso sim,
De seu mais secreto coração.

Não para o soberbo na solidão
Da lua furiosa escrevo
Nestas páginas espargidas
Nem para os mortos conspícuos
Com seus salmos e rouxinóis
Mas para os amantes, o abraçar-se
Aos pesares de tempos idos,
Que não me dão salário ou elogios
Nem estimam meu ofício ou arte.

tradução: rodrigo madeira

                                                    
IN MY CRAFT OR SULLEN ART
     
In my craft or sullen art
Exercised in the still night
When only the moon rages
And the lovers lie abed
With all their griefs in their arms,
I labor by singing light
Not for ambition or bread
Or the strut and trade of charms
On the ivory stages
But for the common wages
Of their most secret heart.

Not for the proud man apart
From the raging moon I write
On these spindrift pages
Nor for the towering dead
With their nightingales and psalms
But for the lovers, their arms
Round the griefs of the ages,
Who pay no praise or wages
Nor heed my craft or art.
                                                                

2 comentários:

  1. http://ossurtado.blogspot.com/2009/05/uma-postagem-desabafo-sobre-traducao-de.html

    se isso não fosse tão aviadado (havia dado?), eu diria que nalguns casos a multiplicidade de traduções de um mesmo poema é como a capa do Dark side of the moon: o original é a luz branca, que sob o prisma da tradução refrata-se num arco-íris de belezas eternas (pouco a pouco)... -

    (cf. http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet107.htm

    ResponderExcluir
  2. pois é, ivan,
    apesar de seu comentário amplamente homoerótico, deu pra entender.

    respondo: as escolhas afetivas que há nu-
    ma tradução são virtualmente infinitas. pois em tradução existe um tãnãnã que é masturbatório e fantasioso.
    há O MEU dylan thomas, O SEU dylan thomas, O dylan DO ivo barroso, O thomas DO ivan junqueira. NOOOOOSSSSSA... QUE LOUCURA!!
    E-TER-NI-ZÔ!

    depois você me conta os detalhes de sua perversa noite de tradução chez le petit charles. ("crénon de dieu d´enculer une statue!!"). ele é feinho, mas tem uma langue...

    ***

    agora falando sério: tentei deixar o poema mais melódico, mais aliterativo e rimado - em termos de sonoridade, um pouco mais próximo do original...

    abç.

    ResponderExcluir