PAUL CÉZANNE, as cinco banhistas (1885-1887)
AS BANHISTAS
I
a primeira – um
capricho de goya, alguém
diria – apodrece como um morango
cuspido ou ameixas sanguíneas: entre
as unhas uma efusão de manganês esboça a
única impressão de vida pois tenta romper
a membrana verde – a bolha de bile,
coágulo a óleo – que cobre o sexo
fugidio como uma lagartixa (sorri
para esta e deixa que em tuas mãos
uma palavra amarga se transforme
em lilases da estação passada)
(...)
VI
aproxima-te
agora desta última:
ela
esta que não está na tela:
ela
aproxima-te e te detém longamente
deixa que isso leve toda a vida – também
cézanne levou toda a vida tentando
esboçando (obsedado em papel e tinta
e lápis e aquarela e tela e proto/tela)
estas banhistas fora d'água como peixes mortos na lagoa
ou na superfície banhada de tinta
– uma tela banhada é uma banhista hélas! e não usamos
mais modelos vivos
ou melhor
os nossos dois únicos modelos: a crítica e a língua
estão mortos
por isso
antes de partires daqui para a vida turva
torvelinho a turba
antes de te misturares ao vendaval das vendas
à ânsia de mercancia
cola o teu ouvido ao dela:
escutarás o ruído do mar
como eu neste instante
na ilha de paquetá
ou na ilha de ptyx?
CARLITO AZEVEDO
poema na íntegra: germinaliteratura
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