domingo, 2 de setembro de 2012

monsieur G., señor P.

                                                                                                           
palhaço no arame (por ricardo pozzo)

perros callejeros (por rp)

o menino e o tempo (por rp)


"A multidão é o seu universo, como o ar é dos pássaros, como a água, o dos peixes.  Sua paixão e profissão é desposar a multidão. Para o perfeito  flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio, no infinito. Estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo (...) Assim o apaixonado pela vida universal  entra na multidão como se isso lhe aparecesse como um reservatório de eletricidade. Pode-se igualmente compará-lo a um espelho tão imenso quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e o encanto cambiante  de todos os elementos da vida. É um eu insaciável do não-eu, que a cada instante o revela e o exprime em imagens mais vivas do que a própria vida, sempre instável e fugidia. "Todo homem", dizia G. um dia, numa dessas conversas que ele ilumina com um olhar intenso e um gesto evocativo, "todo homem que não é atormentado por uma dessas tristezas de natureza demasiado concreta que absorvem todas as faculdades, e que se entedia no seio da multidão, é um imbecil! Um imbecil! e desprezo-o!"
                                      
[BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.] 

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