quinta-feira, 6 de setembro de 2012
ferreira gullar
ARCÂNGELO IANELLI: NO LIMITE DO VER
Não é mais mostrar as formas do mundo
ou do sonho,
da natureza ou da imaginação.
Não é mais figurar, descrever, representar, narrar, aludir.
Não há alusão.
Nem tampouco ênfase, orquestração
das dissonâncias,
dos conflitos de formas e cores.
Não há conflitos.
Pintar, para Arcângelo Ianelli agora é
suscitar o surgimento da cor.
Fazer silêncio e deixar que ela (a cor) imerja
nele – do cerne dele – densa, luminosa.
Vinda do fundo da sombra, a cor
trêmula tênue
como frágil aparição
que fosse se apagar em seguida
Mas não: essa fragilidade é parte essencial
da aparição
como a chama que bruxuleia – por ser chama –
mas se mantém viva e ardente.
Pintar para Ianelli agora é mostrar a cor como pura duração.
E os grandes quadros
parecem feitos
para que neles
o pintor, você e eu,
nos apaguemos
fundidos em azul
em violeta
em rosa
em cinza
em luz
FERREIRA GULLAR
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