terça-feira, 24 de maio de 2011

garcía lorca

  

lá fora
a lua
de granada
(ou madrid?
ou ny?)
é um
candeeiro
a óleo

lá fora
as cigarras
são mais
numerosas
que os homens

e tu
lleno
del lenguaje
de flores y
piedras
sentaste
dentro da casa
ou estúdio

tu e o fotógrafo
cúmplices
da tarde
desenrolando
sua língua hirsuta
lá fora

(a fotografia
das vozes
que ninguém tirou)

tu sentaste
o corpo
oblíquo
o lenço
de pensado
retorcido

o restolho
sobre os lábios
a espiga do milho
mal
granado

as sobrancelhas
de urticante
líquido

o cabelo
marulhado
mar
de gordura
e graúnas

olhas
e sorris
para além
do 17 de agosto
aquela madrugada
madrugada
em que te mataram
tua carne cheia
de sementes

tu
– a lâmpada estoura
a égua dispara –
e teu cadáver

que o fotógrafo
embalsamou
de luz


* do livro "sol sem pálpebras" (imprensa oficial, 2007)

Um comentário:

  1. A saudade que em mim desperta o jogo das letras
    prova como foi parte integrante de minha infância. O que busco nele na verdade, é ela mesma: a infância por inteiro, tal qual sabia manipular a mão que empurrava as letras no filete, onde se ordenavam como uma
    palavra. A mão pode ainda sonhar com essa
    manipulação, mas nunca mais poderá despertar para realizá-la de fato. Assim, posso sonhar como no passado aprendi a andar. Mas isso nada adianta. Hoje sei andar; porém, nunca mais poderei tornar a aprendê-lo. (Walter Benjamin)

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