Kadish
a Diego Terry
Iria começar uma oração
me lembrar de um salmo
iria rezar o pai-nosso
ou um kadisch
volver meus olhos
distar o jamais
aproximar meu passado.
Iria começar uma oração
louvado seja!
Lembrei que
do oitavo andar em Niterói
deus é pedra
a mesma pedra
que iria pôr em sua cova.
Louvada seja
a mentira do sagrado
que
eu profano nesta hora.
Bendito seja o Nome
meu Nome
teu Nome (leitor)
e o Nome de quem nestas linhas
eu pranteio.
Louvado seja
quase me esqueci
do intérmino da face
subterrâneo vivo
onde começa o meu olhar.
Louvada seja
a Carne
- ossos lascados -
deus das alturas
vai
em queda livre
onde jaz
a carniça do vento.
Bendito seja o inferno
maldita bendição
porque malditos são
todos os alados
porque asas pesam
pesa
a juventude nossa de cada sonho.
Bendito, louvado e maldito
seja o céu...
Rasuro tua lápide
arremessando as letras
seladas
com o cuspe
do amanhã.
Santo é
o nome do Horror
inscrevo-lhe meu salmo
e rasuro tua lápide.
Maldito, louvado, bendito
seja o Nome da Carne
ossos que espatifam.
Perdoa-me, Pedra
que venhas tu
ao meu reino
que seja feita
em terra
a terra
nos extratos do jamais
e rezo aqui
o cimo daquela hora
no declive desta oração
Amém.
t.s.
primoroso poema violento e sensível deste grande poeta urbano, nosso amigo!
ResponderExcluirrp
primoroso é o talento, desse meu mais que caro amigo, chamado Rodrigo Madeira Barbosa.
ResponderExcluirHá vezes que somos impelidos por violência, a violentar o papel...e de fato foi o que houve.
T.S.
uma autêntica oração de malditos, fruto sombrio das grandes meditações existenciais e expressionistas de tullio sartini.
ResponderExcluirlindamente horripilante! Realístico.
ResponderExcluirEle é um grande, grande poeta!