segunda-feira, 16 de maio de 2011

giuseppe ungaretti

                         
Italian troops at Isonzo river.jpg










VIGÍLIA

(Cume Quatro, 23 de dezembro de 1915)

Uma noite inteira
atirado junto
a um companheiro
massacrado
com a sua boca
arreganhada
na direção do plenilúnio
com a congestão
das suas mãos
penetrada
no meu silêncio
escrevi
cartas cheias de amor

Nunca estive
tão
ligado à vida   


tradução: rodrigo madeira


VEGLIA

(Cima Quattro il 23 dicembre 1915)

Un´intera nottata
buttato vicino
ad un compagno
massacrato
con la sua boca
digrignata
volta al plenilunio
con la congestione
delle sue mani
penetra
nel mio silenzio
ho scritto
lettere piene d´amore

Non sono mai stato
tanto
attaccato alla vita


* Do livro “L´allegria” (1931).  Poema escrito a lâmina de baioneta, fruto da experiência de Ungaretti na Primeira Guerra Mundial.

2 comentários:

  1. é incrivel a capacidade humana de deixar aflorar em momentos de limite extremo palavras que em outras situações não viriam a mente...

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  2. Assim como a poesia do Georg Trakl, Giuseppe Ungaretti(também ele sob enxofres de sangue)escrevera ao longo de sua obra, um 'único' poema, seccionado em expressões versificadas distintamente.Outros exemplos temos na literatura poética,tais como João Cabral de Melo Neto e Paul Celan, aliás,ambos com estilo bastante próximo ao do Ungaretti.
    Boa a tradução! lindo o poema! me remeteu a nada mais que a brilhante cena final do romance(filmatografado)Im Westen nichts Neues-que em português foi traduzido com o título: Nada de novo no Front, do escritor alemão Erich Von Remarque. A par do trágico final deste romance,reafirma ao enleio de ''Veglia'' e da cena no mencionado romance,o audaz paradoxo da alegria que resiste através do inexaurível sonho de se ser.
    Bravo aos Poetas! Bravíssimo!

    T.S.

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