segunda-feira, 9 de maio de 2011

vicente huidobro (II)

                      
NO OUVIDO DO TEMPO

Tenho grandes sonhos que acumulam tesouros nas raízes das
                                                                                  [árvores
Tenho esse ofício que faz morrer o mar
Vou andando à semelhança de coisa alada
Às vezes canto porque as lágrimas se tornam muito grossas
O Universo vem ciscar em minhas mãos
Os que não sabem espantam-no estupidamente

Tenho muita ânsia e vergonha de tudo
Como uma hora que se detém para pedir pão
Como aquele que não pode dizer o que quer
Enterrado no fundo de sua raça

Contemplo de tão alto que tudo vira ar
Contemplo o olho enorme da terra
Que fazer que fazer
a lua insone passa docemente
Um rio sem vontade se extasia em silêncio
A
luz empapada em seus lampiões de portos angustiados
Também não sabe o que dizer
Nem o farol que ilumina as vitrinas do mar

O rio tem pena
e uma quantidade tal de olhos extasiados
Que a noite poderia equivocar-se
Que as árvores poderiam virar andarilhas
Logo tudo vai embora
E eu olho a terra e suas distâncias desesperadas
Quando as ondas falam entre si

Não há formas não há cores
Não há seres ao fim dessa luz sem luz
Desaparece a criação e seus augúrios
Seus pensamentos suas sensações e também suas imagens
E até seus sonhos de substâncias prisioneiras
O nada luminoso
Nem luminoso nem obscuro
A harmonia do nada sem harmonia
O nada e o tudo sem todo
Para ver isso é preciso ressuscitar duas vezes
Para senti-lo é preciso morrer primeiro


tradução: lu cañete e rodrigo madeira


AL OÍDO DEL TIEMPO

Tengo grandes sueños que acumulan tesoros en las raíces de
                                                                     [los árboles
Tengo ese oficio que hace morir el mar
Voy andando en semejanza de cosa alada
A veces canto porque las lágrimas se hacen demasiado gruesas
El Universo viene a picotear en mis manos
Los que no saben lo espantan torpemente

Tengo grandes ansias y vergüenza de todo
Como una hora que se detiene a pedir pan
Como aquel que no puede decir lo que quiere
Enterrado al fondo de su raza

Contemplo de tan alto que todo se hace aire
Contemplo el ojo enorme de la tierra
Qué hacer qué hacer
la luna insomne pasa dulcemente
Un río sin voluntad se extasía en silencio
La luz empapada en sus faroles de puertos angustiados
No sabe tampoco que decir
Ni el faro que ilumina las vitrinas del mar

El río tiene pena
y una cantidad de ojos extasiados
Que la noche podría equivocarse
Que los árboles podrían hacerse vagabundos
Luego todo se va
Y yo miro la tierra y sus distancias desesperadas
Cuando las olas se hablan entre sí

No hay formas no hay colores
No hay seres al fin de esta luz sin luz
Desaparece la creación y sus augurios
Sus pensamientos sus sensaciones y también sus imágenes
Y hasta sus sueños de sustancias prisioneras
La nada luminosa
Ni luminosa ni obscura
La armonía de la nada sin armonía
La nada y el todo sin todo
Para ver esto hay que resucitar dos veces
Para sentirlo hay que morir primero

Nenhum comentário:

Postar um comentário