quarta-feira, 28 de setembro de 2011

marianne moore

    
                     
POESIA
        
Eu também não gosto dela: há coisas mais importantes para além
     de toda esta farsa.
  Lendo-a, contudo, com absoluto desprezo,
     descobre-se
  nela, no fim das contas, um lugar para o autêntico.
     Mãos que podem agarrar, olhos
     que podem dilatar-se, pelos que podem eriçar-
        se necessário, essas coisas são importantes não porque uma

grandiloquente interpretação pode ser-lhes atribuída mas sim porque
     elas são
   úteis. Quando se tornam derivadas a ponto de se tornarem
     ininteligíveis,
   o mesmo pode ser dito de todos nós, que
     não admiramos aquilo
     que não podemos entender: o morcego
        aguentando-se de ponta-cabeça ou em busca de algo para

comer, elefantes forcejando, um cavalo xucro num rodopio, um lobo
     incansável sob
  a árvore, o crítico inamovível contraindo a pele como um cavalo
     que sentisse a sarna, o fã de
  beisebol, o estatístico
     tampouco é válida
        a discriminação contra "documentos comerciais e
                        
livros escolares"; todos esses fenômenos são importantes. Deve-se
     fazer uma distinção
  no entanto: quando trazidos à luz por meios poetas, o
     resultado não é poesia,
  tampouco, até que os poetas dentre nós possam ser
    "literalistas da
     imaginação" acima
        da insolência e trivialidade, e possam apresentar
             
à inspeção "jardins imaginários com sapos de verdade", nós a
        experimentaremos.
    Neste meio tempo, se você exigir por um lado
    a matéria-prima da poesia em
        toda a sua crueza e
        a qual é por outro lado
           autêntica, você se interessa por poesia.

tradução: rodrigo madeira


POETRY

I, too, dislike it: there are things that are important beyond
      all this fiddle.
   Reading it, however, with a perfect contempt for it, one
      discovers in
   it after all, a place for the genuine.
      Hands that can grasp, eyes
      that can dilate, hair that can rise
         if it must, these things are important no because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because
      they are
   useful. When they become so derivative as to become
      unintelligible,
   the same thing may be said for all of us, that we
      do not admire what
      we cannot understand: the bat
         holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless
      wolf under
   a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
      that feels a flea, the base-
   ball fan, the statistician
      nor is it valid
         to discriminate against "business documents and

school-books"; all these phenomena are important. One must make
      a distinction
   however: when dragged into prominence by half poets, the
      result is not poetry,
   nor till the poets among us can be
     "literalists of
      the imagination  above
         insolence and triviality and can present

for inspection, "imaginary gardens with real toads in them", 
     shall we have
   it. In the meanwhile, if you demand on the one hand,
   the raw material of poetry in
     all its rawness and
     that which is on the other hand
        genuine, you are interested in poetry.
                           

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