quinta-feira, 26 de abril de 2012

literatura é infantilidade


* vídeo roubado do blog poeteias.blogspot.com.br
              


- Mas, se ser um escritor é ser culpado de alguma coisa, então para Kafka ou Baudelaire ser um escritor também é ser alguém que não é lá muito responsável. Essa era a opinião de suas famílias. Esta culpabilidade para eles é algo infantil. E você pensa que Kafka e Baudelaire sentiam-se culpados de ser infantis quando escreviam?

- Creio que isso fica muito claro, eles mesmos o dizem: eles sentiam que estavam na mesma situação de uma criança diante de seus pais. Uma criança que desobedece aos pais e que, consequentemente, tem a consciência pesada, porque pensa nos pais que tanto ama e que sempre lhe dizem o que não fazer, dizem que aquilo é mal, no sentido mais forte da palavra.  (georges bataille)

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O trecho acima me fez lembrar a primeira vez que assumi em voz alta: sou poeta!
Meu pai, coberto de razão, disse-me o seguinte: poeta, não, você é punheteiro! Vai estudar, moleque!    

Um comentário:

  1. esse par de frases de meu pai foi, na verdade, a mais profunda e honesta resenha crítica já dedicada a minha poesia. admito também que foi meu maior elogio. por obra das formações reativas, segui adiante. e, para fechar o ciclo, 2 anos atrás meu querido pai bancou-me o "pássaro ruim".

    sei que ainda hoje minha família vê como uma baita infantilidade esse lance da poesia. mas, comparativamente, a barra é leve.
    outro dia eu conversava com a jane sprenger, pessoa muito próxima do rollo de resende (coincidentemente, postei alguns dias atrás um poema de infância escrito por ele). jane me disse que o rollo deixou aos cuidados dela diversos originais, mas a família do poeta não quer nem saber de autorizar a publicação. acho que é um exemplo muito nítido disso que bataille dizia: a literatura e a poesia - excetuando-se, obviamente, o ofício de uns pouquíssimos consagrados - ainda tendem a ser vistas como uma indisciplina intolerável, uma desobediência que embaraça ou afronta a unidade familiar e o futuro brilhante traçado pelos pais; algo digno de culpa, ressentimentos e vergonha: o mal.

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