sexta-feira, 27 de abril de 2012

2 crianças canônicas

                                                                                     

VELHICE

O netinho jogou os óculos 
Na latrina

(oswald de andrade)



A PUTA

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de baixo
onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
e as labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.

É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.

(carlos drummond de andrade)    

3 comentários:

  1. declamei em sala de aula este poema do drumma.

    =]

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  2. massa, giuliano! poema muito didático, perfeito para alunos de primeiro e segundo grau.
    se poemas como esse (e obras fesceninas em geral: bocage e gregório de matos, aretino e glauco mattoso) fossem apresentados com frequência nas escolas, o professor provavelmente chegaria a dois resultados: 1. demissão; 2. a poesia, em compensação, ganharia uns quantos interessados.
    já tive alunos particulares de português e literatura cujos olhos brilharam quando li, expliquei e reli o "pica-flor" de gregório de matos.
    o problema é a tiazinha, aquela professora de literatura bem simpática e insossa, que enviuvou do casimiro de abreu ainda na adolescência. tz apenas a linguagem da malícia, da sacanagem, do desejo consiga - pra começo de conversa - excitar a língua portuguesa da molecada.

    abç.

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  3. também acho q os alunos não devem ser privados de literatura pornográfica ou coisa assim; acredito q o efeito é sempre bom; lembro-me de me arriscar às vezes nesse sentido, mesmo dando aula de filosofia, certa vez li, na fala de um personagem de um conto, "quem pode fode, quem não pode bate punheta" ou algo assim, eles adoraram...

    abraço!

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