quinta-feira, 4 de outubro de 2012

eucanaã ferraz

                
UMA COISA CASA

I
            
No início
era apenas
lé com lé

cré com cré
e variações 
disso.

Depois, faz-se o Hélio
E Hélio,
seu parangolé.

E como o homem
já era verbo,
eis que o homem disse:

se o chalé
é a casa
do barão do café,

o parangolé
será o palácio
da ralé;

se os bichos
se refugiaram na arca
de noé,
as bichas estarão
felizes no arco
do parangolé;
se a oca é
o abrigo do Pajé
e de seu povo,

o oco do Parangolé
também será
evoé!

pois se o gueto é
bairro do não,
o Parangolé

será praia dos sins
de Lygia Clark, Monsueto,
Waly Salomão;

se o medo corre
serviçal
à saia da fé,

o Parangolé
será de si mesmo
o sal, a Sé.

Pois que seja a linguagem
como quer o filósofo
a morada do ser;

mas eu vos digo,
em verdade, que
o Parangolé é a casa do é.

                                                 
                   EUCANAÃ FERRAZ
                   
* primeira das três partes do poema. 



nildo da mangueira, com parangolé 
de HÉLIO OITICICA (1964) 

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