UMA COISA CASA
I
No início
era apenas
lé com lé
cré com cré
e variações
disso.
Depois, faz-se o Hélio
E Hélio,
seu parangolé.
E como o homem
já era verbo,
eis que o homem disse:
se o chalé
é a casa
do barão do café,
o parangolé
será o palácio
da ralé;
se os bichos
se refugiaram na arca
de noé,
as bichas estarão
felizes no arco
do parangolé;
se a oca é
o abrigo do Pajé
e de seu povo,
o oco do Parangolé
também será
– evoé! –
pois se o gueto é
bairro do não,
o Parangolé
será praia dos sins
de Lygia Clark, Monsueto,
Waly Salomão;
se o medo corre
serviçal
à saia da fé,
o Parangolé
será de si mesmo
o sal, a Sé.
Pois que seja a linguagem
– como quer o filósofo –
a morada do ser;
mas eu vos digo,
em verdade, que
o Parangolé é a casa do é.
EUCANAÃ FERRAZ
* primeira das três partes do poema.
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nildo da mangueira, com parangolé
de HÉLIO OITICICA (1964)
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